São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Exército cede terras para a reforma agrária

MARTA SALOMON; HELCIO ZOLINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Exército Brasileiro irá repassar um total de 3,178 milhões de hectares de suas terras para ajudar a reforma agrária no país. A área equivale a cerca de cinco vezes o território do Distrito Federal.
O anúncio foi feito ontem pelo presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, por intermédio de sua assessoria de imprensa.
O presidente do Incra disse também que não pretende se demitir do cargo. "Não tem por que ele se demitir, em nenhum momento participou desse grampo", declarou o assessor de imprensa de Graziano, Augusto Fonseca.
Para mostrar que não se sente atingido pelas investigações sobre a origem da escuta telefônica que apontou indícios de tráfico de influência no Planalto, Graziano trabalhou normalmente ontem.
No final da tarde, promoveu uma solenidade para a assinatura de convênios que vão repassar R$ 1,2 milhão aos Estados.
Segundo Graziano, as terras que o Exército está colocando à disposição da reforma agrária correspondem a 43% do total de 7,3 milhões de hectares que o Incra desapropriou desde 1970, quando foi criado.
As áreas selecionadas eram utilizadas como campos de prova e treinamento. Os terrenos estão nos Estados do Pará, Rondônia, Mato Grosso e Tocantins.
"Essa parceria com o Exército é histórica. A oferta de áreas militares para a reforma agrária representa a vontade das Forças Armadas de participar de um objetivo que é um programa de governo, e não apenas uma atribuição do Incra", discursou Graziano.
A agenda do presidente do Incra prevê mais um dia normal de trabalho hoje. Ele deve viajar para Teresina, no Piauí, onde inaugurará uma ponte.
O assessor Augusto Fonseca insistiu em que "não há nenhum clima de demissão" no Incra. Graziano não quis comentar a afirmação do ministro da Justiça, Nelson Jobim, que lhe atribuiu a responsabilidade pela escuta dos telefonemas do embaixador Júlio César Gomes dos Santos.
Segundo a versão do Incra, Graziano só soube das gravações dos telefonemas do embaixador no dia 14 -cinco dias depois da data apontada por Jobim- por meio do sócio de seu assessor de imprensa, Mino Pedrosa, que teria "fontes" na Polícia Federal.
Graziano nega a responsabilidade pelo grampo. E insiste em que aqueles que o responsabilizam pela escuta telefônica querem prejudicar a reforma agrária.
(Marta Salomon e Helcio Zolini)

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