São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Governo omite informações para proteger amigo de FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As versões oficiais divulgadas pelo governo sobre o caso Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônica) são falsas. O relatório da Polícia Federal que acusa o então chefe do cerimonial da Presidência, Júlio César Gomes dos Santos, de tráfico de influência foi entregue ao presidente Fernando Henrique Cardoso no último dia 9 pelo diretor do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano.
Na semana passada, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, declarou que só em 13 de novembro FHC tomara conhecimento dos diálogos que comprometiam Júlio César.
Informou-se também que Nelson Jobim, ministro da Justiça, é que havia levado ao Palácio do Planalto a transcrição das fitas obtidas a partir da instalação de "grampo no telefone da casa do então chefe do cerimonial.
Embora informado desde o dia 9, só no dia 17 de novembro Fernando Henrique decidiu afastar Júlio César. A versão inicial passava a impressão de que o presidente havia sido ágil. Informado no dia 13, pedira explicações ao diplomata no dia seguinte.
Na verdade, o presidente agiu sob a pressão dos fatos. O relatório da Polícia Federal havia vazado para a imprensa. Pressionado, o embaixador pediu demissão no dia 15. E o presidente decidiu aceitá-la 48 horas depois.
A omissão do nome de Graziano preservava o auxiliar, amigo do presidente da República. Desde o início da semana, especulava-se em Brasília que o presidente do Incra estava por trás da ação dos agentes federais que investigaram Júlio César, seu desafeto desde a campanha de FHC à Presidência da República.
Ontem, o próprio ministro Nelson Jobim revelou a nova versão. Disse ainda que, além de Graziano, também o diretor da PF, Vicente Chelotti, tinha conhecimento do "grampo instalado no telefone do embaixador Júlio César Gomes dos Santos.
Ouvido novamente, o porta-voz Sergio Amaral disse que, de fato, o presidente soube do caso no dia 9 ou 10, mas apenas "informalmente". Questionado, descartou apenas a hipótese de demissão de Jobim. Quanto à possibilidade de afastamento de Graziano e Chelotti, disse: "A decisão depende dos resultados da investigação". E elas apontam para o eixo Graziano-Chelotti.
Foi afastado do cargo ontem o chefe do Centro de Dados Operacionais da PF, Mário José de Oliveira Santos. Foi ele quem pediu à Justiça autorização para grampear o telefone do embaixador Júlio César.
A Folha apurou que o juiz Irineu de Oliveira Filho foi enganado pela polícia.
Também ontem, o ministro Jobim proibiu a Polícia de solicitar novas autorizações de escuta à Justiça. Determinou também a retirada de eventuais pedidos já feitos.

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sobre crise do Sivam da página 1-5 à página 1-10

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