São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Importação de têxteis chega a US$ 5 bi

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A importação de produtos têxteis deve chegar a US$ 5 bilhões neste ano -234% mais do que no ano passado (US$ 1,5 bilhão).
Esse salto na entrada de artigos estrangeiros provoca rebuliço em toda a cadeia têxtil (fiações, tecelagens, malharias e confecções).
Levantamento da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) mostra que 500 mil trabalhadores do setor foram demitidos ao longo do ano no país. Agora são 2,5 milhões de empregados.
O ritmo de produção desse setor, continua ele, caiu 50% neste ano na comparação com o ano passado e a inadimplência -atraso do pagamento dos clientes (confecções, comércio atacadista e varejista)- chega a 30% do faturamento mensal a receber.
Ele conta que 85% das fábricas já programam férias coletivas no período de dezembro a fevereiro. "No ano passado ninguém parava totalmente as máquinas. Havia revezamento de pessoal. Este ano, as fábricas vão parar mesmo."
José Roberto dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem em São Paulo, diz que a situação das empresas é ruim: 14 empresas médias e grandes já pararam de depositar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
Só na capital, lembra ele, 30 indústrias importantes foram desativadas neste ano. O triplo do ano passado.
Paulo Skaf, vice-presidente da Abit e do Sinditêxtil, diz que, além da importação "exagerada" de artigos, especialmente do Oriente, outros dois fatores contribuíram para provocar uma crise no setor têxtil bem nas vésperas do Natal: o arrocho do crédito a partir de maio deste ano e a falta do frio.
"Os lojistas ficaram com o mico -os importados- na mão porque compraram demais e o consumo caiu. O crédito ficou ainda mais caro e o inverno não veio."
Ele também prevê chuva de férias coletivas no setor em dezembro. E, em janeiro, mais demissões, se a venda continuar baixa.
Confecções
Nas confecções -cerca de 14,8 mil no país-, o número de demitidos chegou a 15 mil do início do ano até setembro, segundo levantamento feito pelo Iemi, consultoria especializada no setor.
Hoje, o setor emprega cerca de 778 mil pessoas na produção. Chegou a ter 1 milhão entre 88 e 89. Na mesma época, o número de confecções somava 16 mil.
"As vendas deveriam estar entre 20% e 25% acima dos patamares atuais", diz André Linden, diretor da Vila Romana, especializada em roupas masculinas, que tem oito lojas de fábrica.
Para minimizar o efeito da retração do consumo, diz ele, a Vila Romana está gastando US$ 1,5 milhão nesses últimos quatro meses do ano em campanhas publicitárias. "Estamos dando ênfase aos preços baixos", diz Linden.
Roberto Chadad, presidente da Abravest, que reúne as confecções, diz que neste Natal as roupas estão custando 30% menos do que no ano passado.
"Não estamos nem sequer conseguindo repassar a inflação do período. Não existe venda."

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