São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Juninho tem potencial para excitar ingleses

BRIAN HOMEWOOD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os torcedores brasileiros estão bastante corretos em considerar o futebol praticado nos campos da Inglaterra pouco sofisticado e de muito contato físico.
Jogadores como, por exemplo, Dennis Wise e David Batty, que não seriam considerados talentosos o bastante para disputar ao menos uma pelada no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, se fossem atletas brasileiros, atuaram neste ano pela seleção inglesa.
Treinadores de clubes das divisões inferiores acreditam, com certa frequência, que a envergadura e o porte físico do jogador são muito mais importantes que o seu talento com a bola. A força física se sobrepõe à habilidade.
Tudo isso não indica, entretanto, que o meia brasileiro Juninho não possa repetir, na Inglaterra, o futebol de sucesso que o fez despontar aqui, no Brasil.
Embora lá o contato físico seja muito mais exigido e constante, os laterais, zagueiros e marcadores em geral entram sempre visando a bola e há menos malícia que no futebol brasileiro -país em que os árbitros permitem que os defensores agridam os adversários com pontapés o quanto quiserem, sem punição.
Nunca vi uma equipe que jogue de forma tão violenta quanto a do Grêmio e tenho certeza de que, na Europa, não seria permitido que seu jogo "sujo" fizesse tamanho sucesso.
Com a devida proteção dos árbitros, Juninho será rápido e habilidoso demais para os zagueiros que atuam no futebol inglês, que não estão acostumados com atacantes que partem para cima com a bola dominada e, por isso mesmo, não sabem como lidar com essa situação.
O maior problema do ex-meia-atacante do São Paulo será fazer seus companheiros de equipe lhe passarem a bola no chão.
Por serem donos de pouca técnica, os ingleses, com frequência, têm "medo da bola" e querem se ver livres dela o mais rápido possível, em geral dando simplesmente um chutão para a frente.
Juninho pode se surpreender com a falta de informação do público inglês em relação ao Brasil.
Basta dizer que vários torcedores de seu novo time, o Middlesbrough, estavam usando os característicos sombreiros mexicanos ao comparecerem à primeira partida de que participou o craque recém-contratado.
Mas ele também terá de se acostumar, por exemplo, com a comida inglesa -que eu definiria como horrenda.
E, mais importante que tudo, esse bom jogador brasileiro ainda precisa ser alertado de que se a sua equipe terminar o campeonato lá embaixo na classificação, ela não poderá lançar mão de uma liminar e virar a mesa. Será simplesmente rebaixada mesmo.
Se o jovem Juninho for capaz de superar todas essas surpresas, tem potencial para se tornar um das coisas mais excitantes que já aconteceram no futebol da Inglaterra.

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