São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Kazan se equilibra entre ser e não ser

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Lá está Clint, "Na Linha de Fogo" e inédito (Bandeirantes, 22h), numa boa aventura de Wolfgang Petersen. Mas não é o que há de mais importante no dia, já que a CNT desencavou o "Sindicato de Ladrões", de Elia Kazan e o mostra às 20h.
Contra uma novela, outra, e bem melhor. O filme conta a história de um lúmpen das docas de Nova York (Marlon Brando) que resolve romper com um sindicato corrupto e com a lei do silêncio que do porto e, a horas tantas, denunciar os crimes.
Ora, como se sabe, Elia Kazan foi comunista nos anos 30. No início dos anos 50, delatou antigos companheiros para a Comissão de Atividades Anti-Americanas. Ao contrário de outros, não o fez por sofrer pressões (e elas eram pesadas, na época). Segundo ele, era preciso mesmo denunciar os métodos de ação dos comunistas.
Existe um paralelismo imediato entre o sindicato e o PC. Ou seja, Brando está para os sindicalistas assim como Kazan para os comunistas. É o sujeito que vê a delação como gesto saudável e necessário.
Singular posição, já que em todos os mundos -sindical ou criminal, capitalista ou comunista- a delação costuma ser vista como a pior das faltas éticas. Elia Kazan a sustenta como uma virtude.
Virtude do cais, virtude kazaniana. Pois é ele o homem que, em todos os seus filmes, ocupa esta estreita faixa entre o dentro e o fora, entre pertencer ou não (a um país, a uma organização).
Kazan mantém esticado o fio da tensão entre o fora e o dentro, entre ser e não ser com tanta convicção que não é de estranhar que sua exclusão (da intelectualidade) coincida com o que sua obra teve de mais fértil. E ainda há Marlon Brando, Eva-Marie Saint, Lee J. Cobb etc. Resumindo, é um filme maior.
(IA)

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