São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995![]() |
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'O Céu de Lisboa' expõe crise do cineasta alemão Wim Wenders
INÁCIO ARAUJO
Produção: Alemanha/Portugal, 1994 Direção: Wim Wenders Elenco: Rüdiger Vogler, Patrick Bauchau, Teresa Salgueiro Onde: a partir de hoje no Espaço Banco Nacional de Cinema (sala 3) e cine Market Place 3 Existe um novo Wim Wenders. Ele já não pensa em restabelecer o contato Berlim/Hollywood, em recriar o cinema alemão, em pensar o tempo e o espaço, essa vagabundagem da alma que marcou tanto seus primeiros filmes. O novo Wenders também não é um diretor da moda. A questão é: o que põe no lugar? Em seu novo filme, "O Céu de Lisboa", um técnico de som viaja a Lisboa chamado pelo diretor Friedrich. Ao chegar, não o encontrando em parte alguma, vaga pela cidade e recolhe ruídos para o filme que Friedrich estava fazendo. Por aí, "O Céu de Lisboa" já se credencia a não ser visto por qualquer espectador que procure o cinema em busca de diversão (mesmo sofisticada). O fio dramático é tênue (tudo consiste em manter a dúvida sobre o paradeiro de Friedrich) e a beleza das imagens não basta para vencer o tédio que se insinua. Quando Friedrich surge, podemos enfim ver que estamos diante de um cineasta em crise, cheio de dúvidas sobre o valor das imagens, seu interesse e, mais que tudo, sua verdade. A imagem está prostituída. Serve para vender coisas (filmes, inclusive). Não existe mais inocência possível em sua captação. Não existe nem mesmo o direito à exceção. O ciclo indústria-mídia-consumo não admite refúgio. Não importa o quanto há de verdadeiro nessas reflexões de Friedrich (versão alemã de Federico, o prenome de Fellini). A questão é elas serem eficazes ou não. E é aqui que Wenders fica no meio do caminho. Ao postergar infinitamente a entrada em cena de seu diretor em crise, Wenders deixa clara sua própria crise, sua própria descrença no que está filmando. O vazio -aqui traduzido pela ausência de Friedrich- não é mais uma solução. É o próprio problema: um erro de "timing". Wenders filma sua crise com dolorida sinceridade, como Fellini em "8 1/2". "O Céu de Lisboa" gira em torno de um cineasta alemão perdido num país que agora é a Europa. A perda de identidade coincide com a descrença no olhar. Busca saídas. Ao contrário do Fellini de "8 1/2", porém, Wenders não acha a sua. Texto Anterior: Wenders e Salles fazem de Lisboa um palco Próximo Texto: 'Terra Estrangeira' reforça estigma do exílio na obra de Walter Salles Índice |
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