São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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As primeiras luzes

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Tinha-se, no início da semana, a impressão de que Fernando Henrique administrava bem a crise do Sivam. Nada mais falso. O que havia na segunda-feira era a imagem de um presidente ágil e firme. Fernando Henrique parecia dominar a cena. O pronto afastamento de Júlio César "Grampo" dos Santos e de Mauro Gandra aumentavam-lhe a estatura.
Desde então, o governo mente e se enrola. Criam-se, uma após outra, versões nada criativas para tentar explicar o inexplicável. As mentiras foram sendo soterradas por uma avalanche de contradições.
Surge agora dos escombros a figura de um presidente acuado e hesitante. Sabe-se que Fernando Henrique foi informado do grampo e das estripulias de seu chefe do Cerimonial no dia 9 novembro e não no dia 13, como informara o Planalto.
Não passava por sua cabeça a hipótese de demitir Júlio César. Bem ao contrário. No mesmo dia 9, o presidente indicou-o para a embaixada brasileira no México. Sabe-se também que o presidente recebeu a transcrição das fitas das mãos de Francisco Graziano e não de Nelson Jobim, como dissera o Ministério da Justiça. Fernando Henrique sabia, portanto, que seu ex-secretário particular, atual presidente do Incra, estava por trás da escuta desde o início.
O conteúdo das fitas vazou justamente porque seus mentores ficaram irritados com a ausência de providências por parte do Planalto. Só depois de ter sido informado de que os diálogos pouco abonadores de seu auxiliar seriam tornados públicos, o presidente começou a agir. Afastou Júlio César. Manteve, porém, a indicação para o México.
Quanto ao ministro Gandra, não foi demitido. Pediu exoneração. A versão de que foi afastado apenas serve aos interesses do Planalto. O último ato da comédia montada em Brasília se desenrola no âmbito do Ministério da Justiça.
Realiza-se uma investigação para demonstrar que Graziano e Vicente Chellotti, diretor da Polícia Federal, tricotaram juntos para abater Júlio César. Imaginavam produzir o barulho de um revólver 22. Acabaram disparando um míssil contra o gabinete de Fernando Henrique. O estrago é grande.

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