São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 1995
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Quem era o alvo?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Estabelecida, em princípio, a responsabilidade de Francisco Graziano, ex-secretário particular de FHC e atual (e futuro ex) superintendente do Incra, no caso do "grampo" dos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, fica ainda a dúvida principal.
É esta: Graziano tomou a iniciativa de acionar o que ele chamou de seus "amigos da Polícia Federal" para monitorar o telefone do embaixador apenas para vingar-se de um desafeto pessoal ou por que suspeitava de uma maracutaia qualquer no projeto Sivam, envolvendo o embaixador?
Essa é a questão relevante. Que os dois não se bicavam, é evidente, pelos abundantes testemunhos de quem participou da campanha e da copa-cozinha do Planalto.
Graziano precisava de alguma arma contra o desafeto, qualquer que fosse. A escuta telefônica forneceu-lhe o que buscava.
Se tudo se limitou a isso, é apenas um episódio de intriga palaciana, lamentável, reveladora do caráter intrinsecamente perverso do exercício do poder, mas comum em quase todos os palácios governamentais do planeta.
Mas cabe igualmente a segunda hipótese, a de que o "grampo" visava não apenas o embaixador, mas também alguma irregularidade no projeto Sivam, que envolvesse a empresa norte-americana Raytheon.
Até ontem eu apostaria em que havia 95% de chances de ter ocorrido a primeira hipótese. Mas a Folha de ontem informa, pela boca de Gilmar Mendes, assessor jurídico do Ministério da Justiça, que a Aeronáutica sabia do "grampo".
Se sabia de fato e se é, como é, a responsável direta pelo Sivam, reforça-se a suspeita de que o "grampo" se deveu à hipótese número 2.
Em qualquer caso, Graziano agiu obviamente para proteger o chefe de um eventual futuro escândalo. Como suspeitava do embaixador, deve ter imaginado que, cedo ou tarde, alguma "carniça" surgiria e respingaria em FHC.
Agora, está na obrigação de dizer porque suspeitava de Júlio César e se a suspeita tem ou não algo a ver com o Sivam.

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