São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Renda alta nem sempre garante um bom distrito

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Analisados separadamente, os indicadores de São Paulo revelam detalhes escondidos no índice de exclusão social da cidade.
Colocados lado a lado -como nestas duas páginas-, dez mapas temáticos mostram estatisticamente o que se percebe andando pelas ruas: distritos ricos nem sempre são os melhores em tudo.
É claro que o mapa da renda dos paulistanos é o que melhor sintetiza o lado desenvolvido da cidade. Mas também mostra como estão confinados geograficamente, muitas vezes, pobres e ricos.
Os quatro distritos mais abastados de São Paulo são, pela ordem, Morumbi, Moema, Jardim Paulista e Alto de Pinheiros. Ali, mais de 35% dos chefes de família ganham acima de R$ 2.000 (20 salários mínimos) por mês.
O décimo distrito que mais concentra renda é Vila Andrade. Vizinha do Morumbi, segundo o Mapa da Exclusão Social, 24,92% dos seus chefes de família ganham R$ 2.000 ou mais por mês.
Bem colocada em renda, Vila Andrade perde em outro quesito. É o distrito que mais concentra habitantes (38,52%) vivendo em moradias precárias.
Moradias precárias são favelas, cortiços e casas improvisadas (como um galpão no qual dormem operários de uma construção).
Em Vila Andrade está parte de uma das maiores favelas da cidade, a Paraisópolis. Outro pedaço dessa favela fica no Morumbi.
É importante notar que o mapa de moradias precárias serve apenas de indicativo sobre as áreas deterioradas da cidade. Mas seus números absolutos estão defasados.
Resultado do Censo de 91 do IBGE, o mapa de moradias precárias aponta 732.874 pessoas vivendo em domicílios nessa situação.
Uma pesquisa de 93, da Prefeitura de São Paulo, constatou haver 1.901.892 habitantes em favelas. Só que essa pesquisa não tem números de habitantes por distritos.
Escola pública
Outro contraste entre renda e condição geral de vida é o distrito do Grajaú (zona sul).
Grajaú é pior distrito quando o assunto é dinheiro: só 0,6% dos chefes de família ganham R$ 2.000 por mês. Outros 53,13% recebem, no máximo, R$ 300.
Mas o Grajaú é o distrito com maior oferta da vagas para escolas do 1º grau. Além de suprir as necessidades anuais de suas 37.921 crianças de 7 a 14 anos, o distrito tem um superávit de 19.644 vagas para essa faixa etária.
Já o distrito classificado como primeiro em condição geral de vida, Moema, está em 90º lugar em termos de vagas em escolas públicas do 1º grau.
Outros cinco distritos colocados entre os dez melhores -Alto de Pinheiros, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Vila Mariana e Perdizes- aparecem na lista dos dez piores em termos de disponibilidade de vagas em escolas públicas.
Escolaridade
A existência de escolas públicas por si só não implica uma maior escolaridade dos habitantes. É isso o que mostram os mapas com o nível de escolaridade dos chefes de família paulistanos.
Em Grajaú, mesmo com toda a oferta de vagas em escolas públicas, apenas 1,03% dos chefes de família estudaram 15 anos.
No caso de nível escolar, a renda é fundamental. Dos dez primeiros distritos colocados em escolaridade, sete aparecem também nessa faixa superior no mapa da concentração de renda.
Esses chefes de família com renda superior a R$ 2.000 e mais de 15 anos de estudos estão em Alto de Pinheiros, Campo Belo, Itaim Bibi, Jardim Paulista, Moema, Perdizes e Pinheiros.
Também coincidem os mapas de baixa renda e o de analfabetos. Iguatemi, Itaim Paulista, Jardim Ângela, Jardim Helena e Lajeado estão entre os dez piores distritos em termos de renda e em escolaridade dos chefes de família.
Saúde pública
O acesso à saúde pública em São Paulo divide a cidade em duas categorias. Os 35 distritos que oferecem atendimento local para os moradores. E os 61 que não conseguem suprir a demanda.
Para fazer esse levantamento, considerou-se o número de Unidades Básicas de Saúde (UBS), Postos de Atendimento Médico (PAM) e Centros de Saúde (CS).
Esses locais são os que suprem a população com o serviço de saúde básica, desde vacinação a fornecimento de atestados médicos.
O mapa de saúde pública em São Paulo revela também uma desproporção na distribuição de locais de atendimento. Enquanto alguns bairros ficam sem nada, outros estão sobrecarregados.
É caso de Vila Guilherme, um distrito cujo serviço de saúde pública atende o equivalente a cinco vezes a população local -moradores de outros locais que vão até lá por falta de opção.
Idosos
São Paulo tem poucos idosos. Segundo o Mapa da Exclusão Social, só 3,07% da população da cidade tem 70 anos ou mais.
A maior concentração de idosos está nos distritos centrais, não necessariamente os melhores no balanço geral. São os bairros mais antigos, que se desenvolveram primeiro, os que têm mais idosos.
Consolação, Mooca, Cambuci e Lapa, bairros tradicionais da cidade, estão entre os que mais concentram idosos. Já distritos de periferia, onde a renda é baixa, tem menos habitantes com 70 anos.
Mortalidade juvenil
Um indicador paralelo à concentração de idosos é o da incidência de homicídios na população de 15 a 24 anos.
A média da cidade é de 102,58 homicídios por ano para cada 100 mil habitantes de 15 a 24 anos. O pior distrito, Jardim Ângela, atingiu a média de 222,12 homicídios. Mas os dez distritos melhores colocados ficaram com uma média menor do que 20 homicídios por 100 mil pessoas.
Mulheres
O centro da cidade apresenta o maior número de mulheres chefes de família em São Paulo.
Nos distritos República, Bela Vista, Consolação e Santa Cecília, mais de 35% dos chefes de família são mulheres. Na média, 21% dos domicílios da cidade têm mulheres no comando.
O que poderia ser considerado um indicador de avanço social -por representar uma suposta independência das mulheres- acaba sendo um fator negativo no Mapa da Exclusão Social.
É que chefe de domicílio é aquele com a maior renda da casa. E, segundo o Mapa da Exclusão Social, a maioria das mulheres chefes de família está nessa situação sozinha -por ser mãe solteira ou separada, entre outras razões.
Saneamento
Quase toda a cidade tem acesso à rede de esgotos. Só 13,55% dos domicílios têm acesso precário: 35 distritos ficam acima dessa média.
O mapa de acesso à rede de esgotos mostra que os problemas de saneamento no centro de São Paulo são mínimos. Apenas algumas dezenas de casas ainda não estão conectadas à rede pública.
Para elaborar o índice de conforto ambiental foram considerados também o acesso à coleta de lixo e à água encanada.
Apenas 1,65% dos domicílios da cidade não tem coleta de lixo regular. E só 2,69% não têm água encanada.

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