São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Lajeado recebe água uma vez a cada 3 dias

Estudo aponta distrito como o pior em qualidade de vida

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Lajeado, o pior distrito de São Paulo (segundo o "Mapa da Exclusão"), fica sem água pelo menos dois dias a cada três e, de cada cem casas, duas nem sequer têm banheiro.
O distrito, 24 km a leste da praça da Sé, é um campeão de resultados negativos.
A maior parte das ruas no Jardim Lourdes, um dos bairros mais pobres do distrito, não é pavimentada. Um córrego recebe ligações de esgoto improvisadas -o que, nos dias quentes, esparrama um cheiro podre no ar.
Lajeado apresenta, por exemplo, o maior desconforto domiciliar da capital. Em média, há 4,36 pessoas por casa.
Possui também o maior índice de pessoas por dormitório (2,91) e por banheiro (4,45).
A maioria dos 112.518 habitantes vive em casas que parecem estar sempre em construção. Raramente há acabamento, como azulejos ou tinta nas paredes.
A imagem não é aquela de barracos com folhas de zinco e pedaços de madeira, como a de favelas apertadas nas marginais Tietê e Pinheiros. Do alto da rua Francisco Godinho, na Vila Iolanda, as casas parecem um monte de blocos de cimento aglomerados.
O problema da falta de água já foi pior. Antes de agosto, as casas ficavam oito dias sem água e apenas um com abastecimento.
Naquele mês, os moradores da Vila Iolanda, comandados pelo mineiro Adalberto Ângelo Custódio, 35, sequestraram um caminhão pipa com 6.000 litros d'água.
"O resgate exigido da Sabesp foi a redução do tempo de rodízio", conta Custódio, uma espécie de líder popular de Lajeado, que vive no local desde 1962.
"Lajeado parece uma cidade de interior esquecida pelo Estado", afirma o padre José Pedro da Silva, há cinco anos trabalhando na paróquia Sagrada Família. Ele está encaminhando à Diocese de São Miguel um documento que "denuncia o crescimento do desemprego e da miséria em Lajeado".
O distrito é o oitavo pior em distribuição de renda: apenas 0,17% dos chefes de família têm renda superior a 20 salários mínimos por mês.
O pernambucano José Ednaldo de Sales, 30, desempregado, diz que chega a ganhar R$ 150,00 por mês fazendo "bicos". O valor equivale ao aluguel de um barraco de dois cômodos na região.

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