São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Solução do Banco Nacional expõe resistência familiar

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

É sob um perfil fortemente familiar que os bancos brasileiros começam um novo ciclo de fusões e aquisições, monitorado pelo Banco Central.
Setubal, Vilella, Moreira Salles, Conde, Faria, Cochrane e Vidigal são apenas alguns dos sobrenomes que estarão por trás das compras e vendas de bancos dos próximos anos.
A disposição desses banqueiros tradicionais em compartilhar o poder em novas instituições é que vai dar o tom das futuras fusões, avaliam os especialistas.
O caso do Nacional mostrou o perigo desse quebra-cabeças familiar, pois os Magalhães Pinto brigaram até o fim para continuar no ramo, comenta-se no mercado.
Marcos Magalhães Pinto cresceu para ser o sucessor de seu pai, o ex-governador Magalhães Pinto, e não poderia abdicar do Nacional tão facilmente. Isso emperrou as negociações com o Unibanco e levou à intervenção do BC, avalia um banqueiro.
Facilidades
Se em alguns casos o fato de o banco ser familiar atrapalha uma eventual fusão, em outros ele pode até facilitar a venda, pondera o consultor João Cirilo Miedzinski, da Controlbank.
"Se há mesmo disposição de venda, o processo decisório é muito mais rápido quando está nas mãos do dono", observa Miedzinski. "Executivos tendem a ser mais cautelosos e querem defender o seu emprego quando o negócio não tem um dono específico."
Para o financista Hans Apostel, da consultoria Apostel & Co., o perfil familiar dos bancos brasileiros não vai impedir a "inevitável" reestruturação do setor nos próximos anos.
Os banqueiros são, antes de tudo, abertos e perspicazes e saberão o momento de unir forças para sobreviver, se for preciso, diz ele.
Apostel acredita que haverá apenas três grandes bancos de varejo no país até 1999. Todos, com ativos superiores a R$ 50 bilhões -o mínimo necessário para manter a competitividade num mercado cada vez mais globalizado.
"Não tem outro jeito. Os grandes bancos terão que crescer mais e os bancos intermediários irão desaparecer ou ser comprados. Ou eles ganham escala, ou perecem", profetiza.

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