São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A reforma que virou pacote

MARCOS CINTRA

De toda a discussão sobre a reforma tributária, sobraram, de concreto, apenas os dois projetos de lei que alteram a cobrança do Imposto de Renda.
A reforma tributária, pregada em verso e prosa, acabou no Irajá. Virou um pacote, como acontece a cada final de ano.
O projeto de reforma do governo foi uma enorme decepção. Em realidade, acabou sendo apenas um remendo. Sua única característica reformista é a federalização dos impostos sobre circulação de bens e serviços. A unificação do ICMS, do ISS e do IPI implica unidade normativa do novo imposto no âmbito federal.
A descentralização perdura apenas do ponto de vista administrativo, e isto, infelizmente, introduzirá exacerbação burocrática no processo de arrecadação. A previsão é de que essas alterações passem a vigorar em 97, se aprovadas em 96.
Restou, portanto, o infalível pacote de final de ano, restrito à técnica do Imposto de Renda.
No IR pessoa física, há importantes avanços, como a desindexação da tabela na fonte, a redução da alíquota de 26,6% para 25%, a provável eliminação da de 35% e o disciplinamento das deduções.
A quase totalidade dos contribuintes do IR será beneficiada, de imediato.
Muitas críticas vêm sendo levantadas quanto às previsões inflacionárias embutidas na tabela do IR. Ela será corrigida em 13%, a partir de janeiro, e congelada para o restante do ano. Para 1996, está prevista inflação de 8%. Superada essa taxa, os contribuintes passarão a ter aumentos no imposto, caso seus rendimentos sejam corrigidos pela inflação.
É evidente que a intenção da administração ao prever uma taxa de inflação de 8% em 1996 é dupla. A primeira delas, de evidente ingenuidade, é sinalizar uma inflação de apenas um dígito para 96. A segunda é garantir um aumento de arrecadação ao longo de 96.
Ao encerrar seu primeiro ano, o governo acerta no varejo. Mas continua errando, vergonhosamente, no atacado. Melhora o IR, mas, ao não reformar o sistema como um todo, está apenas maquiando um aleijão. O país precisa de reformas, não de remendos.

Texto Anterior: Solução do Banco Nacional expõe resistência familiar
Próximo Texto: Cavallo descarta desvalorizar o peso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.