São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995 |
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Polônia caminha para 'terceira via'
TAD SZULC
Encontrei-o outra vez em 1989, quando era ministro do primeiro governo não-comunista polonês, tendo participado das negociações para a transição à democracia. Naquela época, Kwasniewski já era uma figura central no cenário político polonês, dispondo de excelentes contatos em toda a Europa Oriental e Ocidental (ele fala inglês, francês e alemão). No domingo passado, foi eleito presidente da Polônia, com 51,72% dos votos. Derrotou o presidente Lech Walesa, líder da transição para a democracia no país. Eu o observei em janeiro tratando com a nata dos dirigentes governamentais e empresariais estrangeiros na conferência do Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça. Ele era evidentemente visto como um político de futuro. Em seu próprio país, Kwasniewski é um político ocidental perfeito. Está disposto a negociar alianças com a maioria dos outros partidos políticos, e, entre suas prioridades, figuram boas relações com a poderosa Igreja Católica, mesmo sob o risco de irritar os esquerdistas de linha-dura. Sua mulher, que, como a maioria das polonesas, trabalha fora de casa, é corretora de imóveis em Varsóvia, e sua campanha foi administrada por uma mulher jovem. Para manter a boa forma física (e um bronzeado que garanta boa aparência na TV), Kwasniewski joga tênis "sempre que possível". E se mantém muito bem informado sobre as últimas tendências políticas na Europa e nos EUA (se pergunta se Newt Gingrich concorre a presidente em 1996). A trajetória de Kwasniewski, de ministro comunista a presidente de um partido democrático, marca a transição entre as duas eras. "Eu sou a ponte", disse ele. Respondendo a minhas perguntas, Kwasniewski traçou um esboço das muitas razões pelas quais os grandes sonhos alimentados pelos poloneses em 1989 foram substituídos pelo desencanto e o pessimismo de 1995, apesar dos impressionantes avanços econômicos globais -o PNB polonês aumentou em 5% em 1994- e por que tantos eleitores se voltaram aos "pós-comunistas". Ele descartou qualquer possível saudade da época áurea do comunismo polonês como sistema político. Mas insistiu que ela tem muito a ver com a qualidade e o significado da vida, sob as novas circunstâncias hoje vigentes. "Em primeiro lugar", disse ele, "as pessoas entendiam que não existe solução utópica". "Assim como a utopia comunista, que prometeu -falsamente- segurança e bem-estar a todos, a utopia liberal mostrou-se sem efeito, ao afirmar que a mão invisível do livre mercado resolveria os problemas. Assim, nos vimos diante de um duplo desencanto: em relação a antes de 1989 e a depois de 1989". Na conversa, Kwasniewski insistiu que o único meio-termo possível é o "conceito social-democrata" proposto por seu partido, a Aliança Democrática de Esquerda, juntando "uma atitude liberal com o livre mercado" e "os programas sociais que o povo espera". A rápida transição de uma economia estatal para a situação presente, na qual indústrias estatais que têm pouca chance de ser compradas por qualquer setor privado (por exemplo, siderúrgicas e estaleiros) sobrevivem com demissões maciça de operários, o mercado livre ainda não teve tempo de criar novos empregos. Isso já provocou um nível muito alto de desemprego na Polônia. Kwasniewski estima que existam 3 milhões de desempregados (quase 10% da população total e 16% da força de trabalho) e observa que, segundo o Banco Mundial, 5 milhões de poloneses hoje vivem abaixo da linha de pobreza. O emprego garantido e a educação e saúde gratuitas -a chamada "rede de segurança social" à qual os poloneses se acostumaram durante 40 anos de comunismo- desapareceram, porque o país já não pode financiá-los. "Essas realidades sociais representam uma bomba-relógio para a Polônia". LEIA MAIS Sobre o presidente polonês à pág. seguinte Próximo Texto: Legalização do divórcio deve vencer na Irlanda; Pinochet recebe parabéns de Menem; Sede judaica começa a ser reconstruída; O NÚMERO; Raúl Salinas nega que sua fortuna seja ilegal; Rebeldes lançam gás mortal em Sri Lanka Índice |
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