São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Dissidentes políticos somem na Nigéria

The Independent
De Londres

DAVID ORR
EM LAGOS

No saguão da Organização pelas Liberdades Civis, em Lagos, há uma pilha de cartazes recém-impressos em preto e branco. Sob os dizeres "Por que essas pessoas estão detidas?" eles mostram as fotos de seis conhecidos ativistas dos direitos civis: Abdul Oroh, diretor da organização; o dr. Beko Ransome-Kuti, Shehu Sani e Sylvester Odion-Akhaine, da Campanha pela Democracia, Chima Ubani, da Alternativa Democrática, e o dr. Tunji Abayome, presidente da entidade Human Rights Africa.
Desde que foram detidos, no início do ano, os seis não foram mais vistos. O único a ser oficialmente acusado foi Ransome-Kuti, condenado por um tribunal militar a 15 anos de prisão por posse de informações sobre um suposto complô visando um golpe de estado, no início do ano, que poucos nigerianos acreditam tenha realmente existido.
Os outros estão detidos sem acusação em lugares desconhecidos, sem acesso a advogados. Debaixo dos seis retratos no cartaz há um sinistro quadrado preto com a legenda: "Vários Outros".
O julgamento falho e a recente execução do escritor Ken Saro-Wiwa e oito outros militantes pelos direitos de minorias representa a mais flagrante e visível violação dos direitos humanos na Nigéria.
A esperança dos militantes nigerianos pelos direitos civis é que a morte de Ken Saro-Wiwa sirva pelo menos para chamar a atenção do mundo à crise na Nigéria.
Nos últimos 12 anos de governo militar nigeriano, a situação dos direitos humanos vem piorando constantemente. Um decreto de 1984 prevê a detenção de qualquer pessoa sem formulação de acusação, por períodos de seis meses que podem ser repetidos.
"A situação vem se deteriorando muito desde que o general Sanií Abacha assumiu o poder, dois anos atrás", diz Tunde Olugboji, do Projeto de Direitos Constitucionais (CPR), sediado em Lagos.
"Hoje há centenas de pessoas detidas sem acusação. Nenhuma categoria de nigeriano está a salvo do decreto." Entre os detidos sem acusação figuram militantes pelos direitos civis, estudantes, sindicalistas e ativistas pró-democracia.
"O silêncio que se percebe aqui é o silêncio do túmulo", diz Frederick Fasheun, da Campanha pela Democracia. "Os direitos humanos não existem mais na Nigéria. Este país não vive no estado de direito -é um Estado policial."

Tradução de Clara Allain

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