São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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O pós-Sivam

Ao se aproximar do 11º mês, o governo Fernando Henrique Cardoso vive o que de fato se pode considerar a sua primeira crise.
Além do episódio do "grampo" no telefone de um auxiliar muito próximo do presidente, que, paradoxalmente, fica mais nebuloso a cada nova explicação do governo, há a crise no setor bancário, que já tragou dois bancos (o Econômico e o Nacional) colocados entre os dez maiores do "ranking" do setor.
A questão que se coloca é simples de formular, mas muito difícil de responder: o governo conseguirá recompor-se rapidamente dessa crise ou o episódio será visto, no futuro próximo, como o início da queda do prestígio do presidente?
Uma primeira resposta possível -e, mais que isso, provável- é supor que a fraqueza do governo, ao menos em termos congressuais, representará um aumento nas dificuldades no trato com o Parlamento.
O jogo fisiológico, lamentavelmente habitual no Congresso, fica mais fácil quando o governo enfrenta problemas políticos.
No imediato, a recuperação ou não da imagem do governo fica um pouco na dependência da chamada "supercomissão" que examina o caso Sivam e acabará sendo determinante para o destino desse projeto, contrato cujo custo é o segundo maior em curso no planeta.
Se a comissão, presidida pelo senador Antônio Carlos Magalhães, engavetar o projeto, tal como insinuou o próprio ACM na sua primeira reação ao episódio do "grampo", o governo terá sofrido a sua primeira derrota parlamentar.
O governo pode, no entanto, preferir tomar a iniciativa de congelar o projeto Sivam, com o que sai de cena o ruído em torno do caso, e o Executivo pode concentrar suas atenções na conjuntura econômica.
Nesse âmbito, a história recente, do Brasil e da América Latina, demonstra que a queda da inflação é um fator primordial, quase excludente, de popularidade do governo que a derruba e a mantém baixa.
Resta saber se a baixa inflação, sobre cuja continuidade no futuro imediato ninguém parece duvidar, é suficiente para resguardar o prestígio do presidente mesmo diante das notórias dificuldades em termos de atividade econômica, equilíbrio das contas públicas, balança comercial, setor bancário etc.
O jogo parece, portanto, posto nesses termos, mas nunca se pode desprezar a hipótese de que surjam novas surpresas desagradáveis para o governo, em especial enquanto o polêmico projeto Sivam ocupar espaço destacado na agenda.

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