São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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A parte e o todo

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Um escândalo é como uma floresta. Pode-se enxergá-lo por inteiro ou por partes. Experimente-se sobrevoar o escândalo do Sivam.
Vista de cima, em perspectiva, a selva de problemas em que se embrenhou o governo tem a aparência de um grave episódio de tráfico de influência. Nesse contexto, o caso do "grampo" telefônico é apenas uma árvore.
Bem verdade que o "grampo" é uma árvore robusta, frondosa. Mas não se pode tomá-la pela mata. Sob pena de transformar as apurações numa farsa.
No momento, o governo parece mais empenhado em esclarecer o caso do "grampo". É bom que o faça. Do contrário, a autoridade do presidente, já comprometida, vai virar fumaça.
As denúncias da polícia contra o ex-chefe do Cerimonial da Presidência chegaram primeiro a mãos amigas: Francisco Graziano, seu assessor de imprensa Augusto Fonseca e o sócio deste, Mino Pedrosa. Não necessariamente nessa ordem.
Só depois bateu na mesa do presidente. E, por último, na do ministro da Justiça, a quem caberia controlar a polícia. Assim, é fundamental que se saiba por que os federais têm tantos amigos e tão pouca lealdade a seus superiores.
Mas não é só. Ou se apura também a denúncia de tráfico de influência ou se estará sonegando informações à sociedade.
Na última sexta-feira, a Procuradoria Geral da República, em nota oficial, como que desqualificou a fita em que estão registrados os suspeitíssimos diálogos do diplomata Júlio César Gomes dos Santos. Não serviria como prova.
Mais uma forte razão para que se abram novas frentes de investigação. Além de Júlio César, é preciso apurar também a frenética movimentação do senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), o relator do projeto que autoriza o governo a contrair empréstimo externo de U$ 1,4 bilhão para implantar o Sivam.
No final do ano passado, Miranda recomendou a aprovação do projeto. Elogiou a mais não poder a Raytheon e a Esca, empresas escolhidas para tocar o projeto. Inabilitada a Esca, foi preciso renovar o projeto. E o senador passou a criar dificuldades. Súbito, propôs a anulação do contrato e a compra de outros tipos de radares. Estranho, muito estranho.

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