São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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um bailarino no Planejamento

COSETTE ALVES

parlamentar que aprovou a maior proporção de emendas durante a Constituinte.
"Do ponto de vista social, a principal emenda minha e depois projeto de lei, foi sobre seguro-desemprego, o Fundo de Amparo ao Trabalhador e o financiamento de investimentos, como forma de realimentar o fundo do Seguro-Desemprego. É algo que funciona satisfatoriamente". Antes da Constituinte, José Serra tornou-se conhecido como o mais pão-duro secretário de Economia e Planejamento do governo de São Paulo. Exibiu mão de ferro para conter e selecionar despesas, mas sem descuidar da sensibilidade para obras e ações nas áreas sociais e de desenvolvimento do Estado.
Formação
José Serra, junto com Montoro, Fernando Henrique e Mario Covas, ajudou a criar o PSDB. Ele e Fernando Henrique escreveram o programa do partido. Além de ser o mais votado na periferia de São Paulo, foi o maior defensor das reformas políticas e do parlamentarismo na tribuna do Congresso, nas assembléias e na coluna semanal que mantinha na Folha.
Aliás, a facilidade que tem para escrever (gosto que na sua infância já se manifestara) o levou a ser, durante quatro anos, editorialista da Folha, logo que voltou ao Brasil, depois do exílio.
Estudou engenharia na Universidade de São Paulo e virou doutor em economia pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Foi professor do Institute for Advanced Studies de Princeton.
"Quando eu era líder estudantil, no agitado começo dos anos 60, boa parte dos debates giravam em torno de economia. Me interessei por economia porque parecia uma base importante para se entender a realidade, o país, as mudanças e até o golpe de 1964".
Exílio
"Eu tinha apenas 22 anos, incerteza profissional e falta de condições adequadas para sobreviver. Isso e mais o desligamento da família e dos amigos, levou-me a uma fase muito angustiante nos dois ou três primeiros anos. Depois, veio outro período de adaptação, estudos e realização profissional, até o final dos anos 60. Você quer voltar, mas a ansiedade diminui muito". Na preparação para a volta, a ansiedade aumenta.
"Mas não foram 14 anos de infelicidade. Aprendi a construir defesas e a olhar para as coisas positivamente. Faço isso também na vida pessoal. A volta para o Brasil, apesar de alguma apreensão, foi tranquila. De alguma maneira, foi como se, naquele período fora, eu estivesse congelado, um animal pré-histórico que é descoberto congelado e volta à vida num mundo diferente. Encontrei um Brasil diferente do ponto de vista físico. Voltei com uma atitude de cautela para reobservar e aprender. Não sofri uma crise de readaptação, pois acompanhava o que acontecia no Brasil por jornais e revistas".
O exílio, porém, é inseparável da sua vida. "Provocou maior desapego físico às coisas. Também acabei me habituando ao 'up and down' da vida. Você vem para cima, vai para baixo, volta para cima e assim por diante. Olho com realismo, sem excesso de euforia, os períodos em que estou em cima. Lido bem com a transitoriedade. Lembro-me bem de uma reflexão de Borges: 'nadie fracassa tanto como cree e nadie tiene tanto exito como cree'. Eu penso

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