São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Um dia nas corridas

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

No final de 94, eu contava nos dedos os GPs de Fórmula 1 a que havia deixado de assistir desde 80, quando Piquet começou a ganhar com a Brabham. Em 95, porém, se mantive o hábito de programar o rádio-relógio para dez minutos antes das provas, perdi o de ficar acordado para vê-las.
Houve manhãs em que voltei a dormir antes mesmo do tradicional: "Bem, amigos da Rede Globo..."; em outras, logo após a largada. De cabo a rabo, só assisti a metade da temporada, e não sem um certo esforço.
É possível que a capacidade de ficar desperto esteja diminuindo, devido ao que amigos menores de 30 anos chamam, jocosamente, de "R.G. baixo". Mas a culpa maior foi da monotonia das corridas, que, com poucas exceções, foram tão "adrenalina" quanto os jogos de golfe exibidos pela ESPN.
Até no desenho "Corrida Maluca", da Cartoon Network, os pilotos se revezam na liderança das provas e nas vitórias: é da natureza das competições interessantes.
Penélope Charmosa, Cupê Mal-Assombrado, Barão Vermelho, Quadrilha de Morte, todos têm seu dia de glória -com desonrosa exceção de Dick Vigarista, porque trapaceia "demais da conta", como dizem os mineiros.
Na Fórmula 1, contudo, o "Peter Perfeito" Michael Schumacher e a Benetton estiveram alguns degraus acima dos outros, aquele em habilidade, esta em competência.
Suspeitos de irregularidades, foram investigados, mas confirmou-se que eram "apenas" muito melhores do que os coadjuvantes.
A cobertura de TV melhorou dentro da pista, com mais câmeras nos carros. De forma geral, o que houve de emocionante ou pitoresco foi registrado.
No GP da Austrália, por exemplo, pilotos mostraram ao motorista comum, em particular ao brasileiro, que são "gente como a gente": barbeiros, indisciplinados e mal-educados.
A McLaren de Mark Blundell, "fechando" a Sauber de Heinz-Harald Frentzen, parecia uma dessas Kombis carregadas, que trafegam a 60 km por hora na pista da esquerda, segurando comboios de carros de passeio. Irritado, Frentzen ultrapassou Blundell exibindo o dedo médio em riste.
Coulthard bateu no muro e Moreno "rodou". Normal, não estivessem ambos na pista de acesso ao box.
Inesperado consolo para o amador que tira lascas do pilar da garagem, ou, ocupado em trocar a fita, bate no carro parado à frente.
Por outro lado, a Globo continua ignorando o "circo" quando não há treino ou GP. Ora, após 23 anos de transmissão contínua, com oito campeonatos ganhos por brasileiros, o número de aficionados há de ser capaz de sustentar pelo menos um "Videoshow" semanal sobre a F-1.
O narrador Cléber Machado exagerou na confusão com os nomes dos pilotos, e não pareceu à vontade na parte técnica e histórica.
Se há algo que incomoda quando se assiste a uma competição é a sensação de estar prestando mais atenção nela do que o narrador, ou a sensação de que este não é do ramo.
Nas últimas voltas de um GP, Nigel Mansell liderava com folga, mas continuava de "pé embaixo", o que, àquela altura, era perigoso e desnecessário. Receoso, o pessoal do box mostrou-lhe uma placa onde se lia "easy", naquele contexto significando "devagar, cuidado".
Traduzindo em outro sentido, Galvão Bueno acabou atribuindo à equipe (Williams, creio) uma presunção jamais vista nas pistas: "Fácil... o box avisa Mansell que está fácil ganhar a corrida..."

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