São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Festa da AP busca "tempo perdido"

Grupo que está no governo não aparece

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 07/12/95
Antonio Funari Filho -e não Funari Augusto, como publicado- não foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) entre 65 e 66, como informou a reportagem "Festa da AP busca 'tempo perdido'", á pág. 1-8 ( Brasil) de 27/11. Ele presidiu a UEE (União Estadual dos Estudantes) no referido período. Em 65 foram presidentes da UNE, segundo o livro "O Poder Jovem", de Artur José Poerner, Alberto Abissâmara (até julho), Antonio Alves Xavier, Altino Dantas Jr. e José Fidélis Sarno (que se revezaram na presidência). Em 66 foi eleito para o cargo José Luís Moreira Guedes.
A ala da AP (Ação Popular) que chegou ao poder com Fernando Henrique Cardoso preferiu não mostrar sua cara no churrasco de confraternização que a antiga organização de esquerda das décadas de 60 e 70 fez ontem em São Paulo.
Militaram na AP e estão hoje no governo os ministros José Serra (Planejamento), Sérgio Motta (Comunicações), Pedro Malan (Fazenda), Paulo Renato (Educação) e Paulo Paiva (Trabalho). Há muitos outros no segundo e terceiro escalões.
Todos eles foram convidados para o churrasco de comemoração dos 36 anos de fundação da AP em um sítio de Itapecerica da Serra (33 km a sudoeste de São Paulo). Nenhum deles compareceu ou mandou mensagens.
Houve até quem tentasse esconder seu passado de militante clandestino. "Eu era só simpatizante", disse Paulo Renato (Educação) ao ser convidado. "Não, você era militante", afirmou o encarregado pelo convite.
Já o ministro Paulo Paiva não foi convidado por esquecimento. Ao saber do encontro, telefonou para os organizadores reclamando. Mas não pôde comparecer por causa de uma viagem aos EUA.
A ausência mais notada foi a de Sérgio Motta. Funari Augusto, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) entre 65 e 66, lembra que, antes de se tornar ministro, Motta fazia questão de participar dos almoços mensais com antigos companheiros da AP.
Mesmo no PT a presença de políticos graúdos foi escassa. Os ex-deputados Aloizio Mercadante e Plínio Sampaio não compareceram. O governador de Brasília, Cristovam Buarque, preferiu se reunir com seus secretários.
Mas a ausência de pesos-pesados da República não quebrou o brilho da festa da AP.
Havia mais de 300 ex-militantes de 11 Estados brasileiros. Contando-se filhos e convidados, a festa contou com mais de 400 pessoas. Houve discursos e fotos.
O churrasco foi farto. Foram 150 kg de carne bovina, 90 kg de frango e 90 kg de linguiça. Cada participante pagou R$ 20,00. Antes do almoço, houve banho de piscina, abraços, lágrimas e muita conversa.
As antigas divisões da AP sobreviveram aos anos. O ex-deputado Darcy Passos (PMDB) foi irônico com a ausência dos ministros. "Eu pensava que eles viriam para mostrar que eram esquerdistas", disse. "Quem sabe, viriam até armados", completou.
Não faltou quem lembrasse histórias sobre o passado dos ilustres ausentes. O arquiteto Sérgio Seixas, um dos fundadores da AP, em 1962, lembra ter sido expulso da organização por Sérgio Motta e Walter Barelli (ex-ministro do Trabalho e hoje secretário do Trabalho do Estado de São Paulo).
Ligado à Igreja Católica, berço da AP, Seixas resistia, em 1965, à guinada marxista da organização. Os marxistas Motta e Barelli patrocinaram sua expulsão. A militância de Motta teve momentos engraçados.
No mesmo ano em que bancou a expulsão de Seixas, "Rodrigo", codinome de Motta, foi preso na rua Cardoso de Almeida, em São Paulo. Para evitar maiores problemas, picou um mapa de um "ponto" e engoliu.
Nem Fernando Henrique escapou da memória dos ex-militantes. Duarte Pacheco, que dirigiu a AP, lembra de uma reunião da cúpula da organização na casa do editor Fernando Gasparian, em 1965. Estavam presentes simpatizantes da AP, entre eles FHC e o deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971.
Na festa da AP, não faltaram histórias, muitas engraçadas, sobre os desvios ideológicos da organização. Primeiro, o desvio maoísta. Depois, a opção pelo marxismo-leninismo e o namoro com a luta armada, em 1968.

Texto Anterior: FHC troca "grampo" por Shakespeare
Próximo Texto: 'Ana Paula no poder, e FHC na linha auxiliar'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.