São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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FHC troca "grampo" por Shakespeare

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso evitou os assuntos "grampo" e Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) em seu fim-de-semana em São Paulo.
Para garantir a tranquilidade do presidente, um reforçado esquema de segurança manteve a imprensa afastada. Longe do enredo brasiliense, FHC e a primeira-dama, Ruth, mergulharam na trama shakespeariana "Antônio e Cleopátra", uma sangrenta disputa pelo poder entre Marco Antonio e Otávio, na Roma antiga.
Marco Antonio, a grande paixão de Cleópatra, é, afinal, traído e derrotado por Otávio.
Sábado foi o último dia de apresentação da peça, estrelada pela atriz inglesa Vanessa Redgrave, com quem o casal presidencial jantou, na casa da empresária teatral Ruth Escobar. O jantar terminou às 2h30 da madrugada.
Entre os convidados por Ruth Escobar para assistir à peça encontravam-se o filósofo e amigo de FHC José Arthur Giannotti, o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, os empresários Eugenio Staub e Roberto Civita, e José Gregori, chefe de gabinete do ministro Nelson Jobim, da Justiça.
A lista de convidados de Escobar incluiu os atores Ney Latorraca, a quem o presidente se dirigiu para cumprimentar, Tonia Carrero e Regina Duarte.
O teatro Sesc-Anchieta, onde a peça foi encenada, estava lotado, com gente sentada no chão. O desejo de FHC de permanecer longe da imprensa era evidente. No intervalo da peça, preferiu ficar fechado em uma sala da administração do teatro.
Aos jornalistas que haviam conseguido entrar, só foi permitido acompanhar o presidente à distância. Seus assessores preocupavam-se em saber quem havia permitido o ingresso da imprensa.
Disso resultou um curioso diálogo entre dois assessores: um avisou ao outro, buscando cumplicidade, que o presidente perguntara quem havia autorizado a entrada dos jornalistas e que ele respondera que havia sido "Dona Ruth".
À saída, FHC disse apenas que fora "excelente" o espetáculo de três horas e 15 minutos de duração, falado em inglês, com legendas em português. Temendo que o rápido contato se prolongasse, o presidente disse que não ia falar sobre teatro no meio da rua.
O ministro da Educação, Paulo Renato, que visitou FHC em sua casa no início da tarde de ontem, afirmou que educação fora o único tema da conversa.
"Não tenho acompanhado o que acontece com o Sivam, só soube do caso pelos jornais." O ministro disse que a última semana havia sido "terrível" para ele, empenhado em obter a aprovação do Congresso para a criação do Conselho Nacional de Educação e da reforma do ensino básico.
Sobre a colocação do "grampo" que revelou indícios de tráfico de influência na aprovação do projeto do Sivam, no entanto, o ministro estava informado. Disse ter lido acusações contra o presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Francisco Graziano, mas não provas de que foi ele o autor do pedido de escuta das conversas.

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