São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995 |
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'Advogado dos latifundiários' diz ser apenas um "patriota" Luchési tem para receber maior indenização do país ANA MARIA MANDIM
A frase, dita pelo maior adversário da política de desapropriação do Incra, revela o estilo do autor, o advogado Fábio de Oliveira Luchési, 53, especialista em direito agrário. Seguro de si, segue a trilha do pai, Líbero Luchési, que também advogou contra o Incra em brigas de terra. Luchési é candidato a receber, em 1996, a maior indenização por desapropriação a ser paga pelo Incra: R$ 385 milhões, que dividirá com 19 sócios da Fazenda Reunidas, uma gleba de 7.200 alqueires (17.280 hectares) em Promissão (480 km a Noroeste de São Paulo). "Não consigo enxergar esse dinheiro nem com o telescópio de Monte Palomar (observatório americano)", diz Luchési. Sentado atrás de uma vasta mesa, coberta de pilhas de papel rigorosamente ordenadas, o advogado enche o cachimbo que passou a fumar depois de três enfartes causados por excesso de trabalho. Sua jornada diária, de 14 horas, inclui sábados e domingos. "Sou um advogado caipira. Atendo o cliente quando ele chega. Não tem nem firula nem hora marcada." Frequentemente, em avião próprio, desloca-se para atender a um chamado urgente de qualquer ponto do país. Às vezes, despacha em seu lugar um dos oito advogados da sua equipe. Três deles são seus filhos. Não é raro que à mesa de Luchési chegue a consulta de um ministro da Agricultura ou do próprio presidente da República. O ex-presidente José Sarney chamou-o a Brasília em duas ocasiões. Em 1985, para rever o primeiro Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). A intervenção de Luchési provocou o pedido de demissão de um dos autores do plano, o então presidente do Incra, José Gomes da Silva, tio do atual titular do órgão, Francisco Graziano. Em 1989, a missão de Luchési foi ajudar a redigir o anteprojeto de uma nova lei agrária, que não chegou a ser votado. Sobre uma estante, ao alcance do braço, um monitor de TV permite a Luchési saber o que acontece em cada aposento do escritório. "Há dias em que não saio desta sala, e preciso saber quem está, para chamar." Além da biblioteca que ocupa uma parede e de barricadas de processos, duas outras coisas destacam-se em seu gabinete: uma faiscante coleção de objetos de cristal e um quadro, feito sob encomenda, com a imagem de uma fornalha. O quadro está pendurado atrás da mesa de Luchési. "Esse quadro representa o meu espírito. Eu sou uma fornalha, fervendo pelo Brasil. Não tenho vergonha de dizer que sou patriota." Paixões Vidros e cavalos são a paixão de Luchési. Os cavalos, ele cria na fazenda que tem em Cáceres, Mato Grosso, próximo à fronteira com a Bolívia. Emoldurado em prata, sobre um aparador, o retrato de Líbero Luchési quando jovem: "É o meu ídolo, foi o homem mais culto que conheci." José Gomes da Silva chamava Fábio Luchési de advogado dos latifundiários. Para Luchési, a opinião é, simplesmente, o reconhecimento de sua importância profissional. Texto Anterior: Delegado vai entregar hoje novo pedido de prisão contra Rainha Próximo Texto: Superindenizações são "superburrices" Índice |
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