São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Malan diz que juros pesarão menos em 96

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Eis o cenário com o qual o governo trabalha para 1996: inflação na faixa dos 15% para os preços ao consumidor, contra os 25% deste ano; juros de 15% acima da inflação, na média do ano, contra os 30% de 1995; e crescimento moderado, perto dos 4%, parecido com o deste ano.
Não é um cenário oficial. Mas esses números aparecem em diversos documentos do governo. E, sobretudo, em conversas com membros da equipe econômica.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse à Folha que em 1996 os juros vão pesar nas contas públicas "muito menos" do que pesaram neste ano.
Ou seja, a taxa de juros de 1996, que se aplica aos títulos da dívida do governo federal, será "bem menor" do que a de 1995.
Neste ano, a taxa de juros real deverá ficar, na média, em torno de 30% acima do Índice Geral de Preços (IGP), da Fundação Getúlio Vargas. Quanto seria o "muito menos" do próximo ano?
Documento do Banco Central, que programa a emissão de reais para o primeiro trimestre de 1996, indica que se considerou ali uma taxa de juros de 16% anuais, acima do mesmo IGP. Isto é, a metade da taxa deste ano.
O ministro Malan se nega a cravar esse número. Diz que "é compatível" com aquela previsão de emissão de moeda, mas ressalva: "há outros cenários".
O diretor de Política Monetária do BC, Francisco Lopes, também evita o compromisso com uma meta, mas acentua que a taxa cairá muito por causa da inflação menor e da estabilidade da economia.
Quanto à inflação, Lopes observa que 15% pode ser "uma boa meta" para os índices de preço ao consumidor em 1996.
Neste ano, até outubro, o índice medido pela Fipe, em São Paulo, acumulou inflação de 20,3%. O índice do IBGE, que mede custo de vida em 11 capitais estaduais, chegou a 18,2%. Terminarão o ano entre 21% e 25%.
Entretanto, mais importante que o número final de 1996, segundo Lopes, será a estabilidade da economia. Até aqui, na fase inicial do programa de estabilização, os índices têm variado muito.
O índice da Fipe, por exemplo, oscilou entre 0,7% (setembro de 95) e 3,72% (julho de 95). O IGP foi de menos 1,08% (a deflação de setembro de 95) a elevados 3,34% (agosto de 94).
Essa circunstância, que os economistas chamam de "volatilidade", joga para cima os juros. Ocorre que a taxa de juros, para remunerar a aplicação financeira, precisa ser superior à inflação.
Assim, quando fixa a taxa de juros para a frente, em ambiente volátil, o banco adiciona sempre um ponto ou mais à estimativa técnica, para prevenir surpresas.
Para 1996, a expectativa é de um ambiente estável, com a inflação começando na faixa de 1,5% ao mês e tendendo progressivamente para baixo de 1%
Nesse quadro, a taxa de juros pode descrever uma mesma trajetória de estabilidade. Ela não estará indexada à inflação, insiste Lopes, e será alta, para conter a inflação, enquanto não se implementam as reformas estruturais do setor público (administrativa, tributária e previdenciária).
Mas pode-se apostar que a taxa de juros será consistentemente declinante.
Quanto ao crescimento econômico, o número mais frequente para 1996 é de 4%. Mas ninguém no governo achará estranho se ficar ainda abaixo dos 3%.

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