São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Quem pode derrubar o Ajax é o Grêmio

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Pode botar aí em fila o Milan, o Barcelona, o Boca com Maradona e tudo, o Flamengo de Sávio, Romário e Edmundo, quem mais se habilita? -o Bayern de Munique, que já levou de cinco há alguns meses, enfim, quem você quiser, pode pôr na frente que esse Ajax passa por cima como se estivesse chupando um picolé, na imagem de Nelson Rodrigues.
O único, em todo este vasto mundo, que pode derrubar o Ajax é exatamente o seu adversário de amanhã: o nosso Grêmio. Nem de longe porque o Grêmio seja melhor time. Não é nem sequer melhor do que os já catalogados, com exceção, claro, do Fla que não saiu do papel.
É que o Grêmio tem dois atributos essenciais que se encaixam perfeitamente nas deficiências do Ajax. Sim, porque, embora siga sendo um time maravilhoso, único no mundo a praticar um futebol bonito e eficiente, o Ajax não é perfeito.
Tem lá suas fraquezas. E uma delas é a bola alçada em sua área, posto que a dupla de zagueiros -Blind e Frank de Boers- é baixa e altamente técnica. Ora, quem já viu o Grêmio jogar sabe de cor e salteado que o gigante Jardel é um perito exatamente nesse tipo de jogo. Aliás, bola alta para o cabeceio de Jardel é simplesmente uma das únicas duas jogadas fatais do Grêmio.
A outra é o contragolpe rápido de Paulo Nunes. Pois taí outro canal aberto pelo Ajax, uma equipe que sofre de ataquismo compulsivo. Ataca, ataca e ataca, para, em seguida, atacar. Sobretudo pela esquerda, com, chamemos assim, seu lateral Bogarde, aquele que supostamente deveria cuidar de Paulo Nunes.
E, quando é atacado, os jogadores do Ajax voltam a si, em bando até. Mas todos correm para o miolo da área, deixando as extremidades livres, o que, com Paulo Nunes de um lado e Arilson do outro, convenhamos, é uma temeridade.
Além do mais, esses holandeses não me parecem acostumados a uma marcação, que, além de tenaz, raia à violência, como a do Grêmio. Não que o Grêmio seja o time mais violento do Brasil, nada disso. Ele simplesmente também o é, no futebol mais violento e desleal do mundo: o nosso. Sim, nós que nos amávamos tanto por nossa cordialidade, somos, hoje em dia, nas quatro linhas do campo, verdadeiras hordas de hunos, se comparados aos europeus que desfilam todos os dias pela telinha da TV.
Pois não nos limitamos a dar pontapés uns nos outros, mas agarramos a camisa, trocamos tapas, cabeçadas, cotoveladas. Chegamos até ao requinte bárbaro de esmigalharmos as vergonhas alheias. E fazemos tudo isso com tal constância e desfaçatez que ninguém mais dá bola. Virou instituição nacional.
Mas, mesmo que o Grêmio se limite a jogar na bola, seu espírito de luta, sua disciplina tática e a malícia típica do jogador brasileiro, tudo isso conjugado, podem fazê-lo campeão do mundo. E será celebrado como tal, enquanto o Ajax entrará na história, ao lado da Hungria de 54, da Holanda de 74 e do Brasil de 82, como mais um perdedor imortal.

E lá vai o Santos, 11 camisas brancas sopradas pelo vento, pois é esta a velha imagem que me assalta quando a bola rola de Vágner a Jamelli, de Robert a Giovanni. De Giovanni, para o gol.

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