São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Aswad trará seu 'reggae popular' ao Brasil

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

No próximo fim-de-semana, o grupo inglês de reggae Aswad faz uma série de shows em Uganda, na África. Menos de dois meses depois, no dia 19 de janeiro, a banda se apresenta no estádio do Pacaembu, em São Paulo, na noite "black" do Hollywood Rock.
Para os músicos do Aswad, que estão juntos há 20 anos, não há nada de exótico nesses dois shows. Tanto na África quanto na América do Sul, a mensagem do trio será a mesma: "As injustiças ocorrem em todo o mundo", diz o vocalista Tony Gad.
No disco "Rise and Shine", lançado em 94, o Aswad (negro, em árabe) canta uma música ("World of Confusion") que narra a trajetória de um garoto inglês, que é ladrão de carros. A música se encerra com um lamento do narrador: "Eu não consigo entender o que está acontecendo com nossas vidas. Quando mais eu penso, mais eu quero chorar."
"Rise and Shine" é o 14º disco do Aswad. No Brasil, foram lançados "Distant Thunder", nos anos 80, e "Live & Direct", em 93.
Em 91, o Aswad fez uma séries de shows no Rio e em São Paulo. Na entrevista a seguir, concedida na última sexta-feira, o vocalista e baixista Tony Gad conta sobre essa visita e responde as críticas ao "comercialismo" da banda.
Gad não quis dizer sua idade. "Quero achar uma mulher bonita no Brasil para casar e a minha idade pode espantar", afirmou.

Folha - O que vocês encontraram no Brasil, em 1991?
Tony Gad - Imaginava que o Brasil fosse um paraíso. Chegamos ao Rio de noite. De manhã, ao ver a praia de Copacabana da janela do quarto do hotel, tive certeza que estava no paraíso.
Folha - Nas ruas, você não viu nada parecido com o inferno?
Gad - Vi muitas crianças dormindo nas ruas, de madrugada. É triste, mas injustiças como essa acontecem em todo o mundo, não só no Brasil. Aqui em Londres também vemos crianças dormindo nas ruas.
Folha - Vocês tocaram junto com o grupo Cidade Negra. Que tal o som deles?
Gad - Não lembro muito bem. Lembro que, na última noite, tocamos vestindo camisas do Flamengo. O engraçado é que o nosso tecladista, como era muito gordo, teve que usar duas camisas, uma amarrada na outra.
Folha - Você estão juntos há 20 anos. Qual é o segredo?
Gad - Adoramos o que fazemos. E também acreditamos em Deus. Quando discutimos, sabemos que há alguém que pode nos ajudar a resolver os problemas.
Folha - Vocês começaram como uma banda de reggae tradicional e foram mudando, incorporando outras influências. Os críticos dizem que vocês perderam a identidade.
Gad - Essa é uma crítica que ouvimos desde 1988, quando emplacamos uma música, "Don't Turn Around", em primeiro lugar na parada inglesa. Era um reggae, mas também uma canção de amor. Fomos acusados de termos ficado comerciais. Qual é o problema de tocar uma canção de amor?
Folha - Boa pergunta.
Gad - Não há nenhum problema. Agora, se você julgar a carreira de um grupo apenas por uma música de sucesso você terá um retrato errado desse grupo. Aquela música é apenas uma música.
Folha - Mas, e as misturas que vocês fazem com outros estilos e ritmos musicais?
Gad - O reggae se tornou muito acessível ao grande público nos últimos dez anos. Não temos preoconceito em usar outros estilos, como soul, hip hop ou rap. Fazemos um reggae popular.
Folha - Qual é o futuro do reggae?
Gad - Tínhamos medo que as novas tecnologias, os samplers, fossem desvirtuar o reggae. Mas hoje vemos que é possível entender e fazer um bom uso da tecnologia. Nós não deixamos a tecnologia nos usar.
Folha - Qual é a relação do Aswad com as drogas?
Gad - Não usamos drogas. Se você está querendo saber de maconha, nós nunca vimos a maconha como uma droga. É uma planta natural, com propriedades médicas, inclusive. Mas não é preciso fumar maconha para tocar reggae.

O jornalista MAURICIO STYCER viajou a Londres a convite da produção do Hollywood Rock

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