São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Pequenos favores, grandes negócios

VALDO CRUZ

BRASÍLIA - Um dos estopins da crise do grampo, o embaixador Júlio Cesar Gomes dos Santos, anda meio desaparecido da imprensa. Mas, dentro do Palácio do Planalto, nunca se falou tanto no seu nome. Uns o atacam, outros o defendem.
Os seus inimigos, aqueles que o consideram arrogante, continuam disseminando a suspeita de que o ex-chefe do cerimonial estaria envolvido em corrupção, aproveitando a sua proximidade com o presidente da República.
Já os seus amigos, os que conviviam com o embaixador antes mesmo de ele chegar ao Planalto, não acreditam na hipótese corrupção. Mas dizem que Júlio Cesar gosta de duas coisas: aparentar mais poder do que tem e ajudar amigos em troca de pequenos favores, como uma viagem de jatinho aos Estados Unidos.
Vamos lá, que os seus inimigos estejam apenas interessados em destruir um adversário. Afinal, como diz a lei, ninguém pode ser julgado culpado enquanto as provas não forem apresentadas.
Fiquemos com a segunda opção, a dos amigos. Mesmo ela, porém, é condenável. O Brasil, depois de duas CPIs (Comissões Parlamentar de Inquérito) -a que derrubou Collor e a que desmontou o esquema dos anões do Orçamento-, não suporta nem mais esses "pequenos desvios".
Todo mundo em Brasília, pouco informado que seja, sabe muito bem que nenhum empresário faz um "favorzinho" para um servidor público sem interesses diretos. Quando dá um presentinho, está de olho nos dividendos que o seu ato pode render.
O que o empresário quer é ver o seu projeto, que dorme esquecido na última fila sobre a mesa de um ministro, amanhecer sorridente em primeiro lugar. De preferência, com alguma recomendação. Ou então receber um pagamento atrasado na frente de outros credores. Melhor ainda se conseguir alguma informação sobre uma concorrência futura.
Ou seja, atrás dos "pequenos favores" há sempre "grandes negócios". Daí porque considerar totalmente inoportuno e, no mínimo suspeito, alguém que ocupa a sala ao lado do presidente e mantém esse tipo de relação promíscua.
Em tempo: um amigo me diz que está intrigado. Gostaria de saber o que está nas outras gravações, além das 13 divulgadas. Afinal, em 22 dias muito mais coisa deve ter sido ouvida.

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