São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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Rainha critica "inoperância" do governo Covas e ação da polícia

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) José Rainha Jr. criticou ontem a "inoperância" do governo Mário Covas (PSDB), caracterizada, segundo ele, pela falta de controle sobre a polícia e pela lentidão no assentamento de famílias sem terra.
Durante entrevista exclusiva à Folha, Rainha disse que, dois meses depois de o MST ter fechado um acordo com o governo de São Paulo, nenhuma medida concreta para assentar famílias no Pontal do Paranapanema (extremo oeste do Estado) foi tomada.
Covas e líderes dos trabalhadores rurais fecharam acordo em setembro último que prevê o assentamento de 2.100 famílias até junho do ano que vem, das quais 1.050 até 31 de dezembro de 95.
Segundo Rainha, a "burocracia" do governo tem impedido os assentamentos.
"Enquanto Covas se compromete a assentar as famílias, técnicos do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) nos dizem que será impossível cumprir o acordo firmado".
Na sua opinião, ao fazer seguidos pedidos de prisão preventiva de líderes do MST, "a polícia do Covas se caracteriza como braço do latifúndio no Pontal".
"O governador se compromete com a reforma agrária, mas a polícia sob seu comando só cria dificuldades. Dessa maneira, a única alternativa que o governo nos deixa é promover novas ocupações".
A afirmação de Rainha se refere a um novo pedido de prisão preventiva feito pelo delegado Otaviano Rodrigues da Trindade. O líder dos sem-terra é acusado de extorsão contra o comerciante Roberto Amaro da Silva, produtor de sementes em Sandovalina (640 km a oeste de São Paulo).
Segundo Silva, Rainha teria exigido R$ 6.000 para não queimar sua produção de sementes. O líder do MST nega a acusação.
Rainha confirma que um integrante do MST, Cláudio Marques Cano, fez negócios com Eziel Barbosa, tio de Silva. "Em garantia, foi dado um cheque meu, do Bradesco, no valor de R$ 3.000. Depois, Silva recebeu 1.820 kg de semente de capim. Se alguém está em débito, é o Silva. Jamais houve tentativa de extorsão."
Segundo o sem-terra, caso seja decretada sua prisão preventiva, ele voltará a se refugiar como fez na primeira quinzena deste mês.
O secretário de Justiça do Estado, Belisário dos Santos Jr., responsável pelas negociações com o movimento dos sem-terra, discorda das críticas de Rainha.
"Estamos trabalhando em velocidade máxima para assentar as famílias. Ocorre que o governo do Estado não invade terras", disse.
Segundo o secretário, as terras para assentamentos serão liberadas por meio de liminares (decisões temporárias) da Justiça ou com o consentimento de fazendeiros.

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