São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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Reagir ou fugir

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - As reações em torno da manifestação Reage Rio, programada para hoje, evidenciam a ridícula esterilidade das discussões no Brasil de hoje. Por partes:
1 - A manifestação é necessária e conveniente. Só a reação da sociedade organizada será capaz de mudar alguma coisa neste país, que é o que é exatamente porque a sua sociedade é amorfa e invertebrada.
2 - Se é ou não um "reage, rico", em vez de "reage, Rio", é irrelevante. Mesmo que apenas os ricos estejam se mobilizando ou compareçam, seria ótimo da mesma maneira. A menos que se queira criar um apartheid às avessas, ou seja, implantar a noção de que os ricos e a classe média não têm direito à paz.
3 - O problema está em dar sequência ao ato. Os objetivos da manifestação, ao menos na visão exposta ontem à Folha por Rubem César Fernandes, são os corretos: reforço da polícia, numa ponta, e investimento social, na outra.
Ambos são igualmente necessários, por mais que haja gente séria achando que só o investimento social resolve a questão da violência. Talvez resolvesse numa fase anterior, em que a situação não era tão grave. Hoje, não resolve mais, até porque não há dinheiro suficiente para, no curto prazo, corrigir a obscena situação social da República.
A verdade é que o crime organizado tomou proporções tão formidáveis e escala tão planetária que só uma polícia altamente competente e bem estruturada será capaz de, ao menos, reduzir a sua incidência.
Sejamos honestos: antigamente ainda era possível convencer um cidadão qualquer a trocar um biscate no jogo do bicho por um emprego legal, ainda que mal remunerado. Hoje, não mais. Só o receio de ser apanhado é que pode levar os subempregados pela criminalidade a aceitarem a reintegração.
Está claro que botar 1 milhão de pessoas na rua (ou 100 mil ou 50 mil) e depois voltar todo mundo para casa vira apenas "happening". Ou se estruturam, depois do ato, mecanismos eficazes de pressão sobre o poder público impotente e incompetente ou é melhor trocar o "reage, Rio" pelo "fujamos todos".

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