São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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Guerrilha do Paraguai

Parecia apenas mais uma medida entre as muitas que o governo vem adotando nos últimos meses para coibir importações, orientação cuja inspiração vem da crise mexicana.
Mas a redução da cota de produtos importados para quem vem de Ciudad del Este vem rapidamente assumindo os contornos de uma batalha política maior. A cota foi reduzida de US$ 250 para US$ 150 há 14 dias. Há quatro dias, comerciantes paraguaios bloqueiam a Ponte da Amizade em protesto.
Empenhado na defesa dos "sacoleiros" brasileiros está ninguém menos que o governador do Paraná, Jaime Lerner. A inquietação do governador é compreensível. Para Lerner, "não é o sacoleiro que traz problema. O contrabando de larga escala não é o sacoleiro que faz".
Primeiro, se o contrabando em larga escala não é feito por sacoleiros, isso em nada diminui o fato de que a "sacolagem" em grande escala faz, de fato, estragos.
Segundo, se o contrabando "em larga escala" não é feito por sacoleiros, daí não se conclui que o pequeno comércio também não sirva de suporte para o comércio ilícito. Segundo estimativas da Receita Federal, o contrabando via Paraguai anual chega a US$ 12 bilhões.
É notório que o comércio entre Brasil e Paraguai abriga inúmeras irregularidades. Se o governador do Paraná sabe ou pode provar que o contrabando ocorre ainda ou preponderantemente sob outras formas, que as denuncie.
Fora disso, não há como imaginar que compras a pretexto de turismo pessoal possam motivar uma guerra diplomática. Trata-se no máximo de uma guerrilha, diária, entre fiscais e "sacoleiros".

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