São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Funkeiros cantam contra a discriminação

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Na salada de reivindicações da caminhada Reage Rio, a ala dos funkeiros -com seu discurso pela paz e contra a discriminação social ao funk e às favelas- era a mais animada.
Enquanto a maior parte dos manifestantes caminhava sem som ambiente e conversando, o caminhão de som dos funkeiros fazia milhares de jovens cantarem e pularem pela avenida Rio Branco.
"Eles (a elite) queriam fazer da gente a ala dos excluídos, pois achavam que a gente ia fazer confusão. Mas mostramos que a gente quer o mesmo que eles: a paz", disse o presidente da Associação dos Funkeiros do Rio, Jair Foli de Azevedo, 30.
Na caminhada Reage Rio, os milhares de funkeiros representaram o lado sonoro de um protesto que uniu representantes de favelas e comunidades carentes do Rio.
A faixa mais expressiva, que vinha à frente da ala dos funkeiros, foi a da Associação de Moradores e Amigos do Morro do Andaraí (zona norte): "A Paz dos Ricos Não Significa o Massacre do Povo das Favelas". O vice-presidente da associação, Jorge Luiz de Souza, 33, disse que a caminhada "era coisa de rico", mas que os favelados estavam ali para aproveitar um espaço para protestar.
Protestar, segundo ele, contra a violência policial e contra a indiferença "do pessoal do asfalto". "A gente apanha tanto e nunca ninguém fez passeata de um milhão pra gente", reclamou.
Souza lembrou que, há duas semanas, após tiroteio entre traficantes e policiais, moradores dos morros do Pavão e Pavãozinho, entre Ipanema e Copacabana (zona sul), fizeram passeata contra a violência na orla. "A classe média ficou de longe, na praia, acenando", lamentou.
Enquanto Souza protestava, os funkeiros cantavam que "dividir a cidade só vai trazer mais violência" e "considerar nossas comunidades como terra de ninguém, não trará nunca a paz!".
Um dos promotores de bailes funk em favelas, Eduardo Alfredo Martins Marques, 39, da equipe de som Dudas, reclamava do preconceito dos moradores do asfalto do Leme (zona sul). Há duas semanas, após intenso protesto de moradores dos prédios vizinhos à favela, os organizadores decidiram suspender o baile do morro Chapéu Mangueira.
Para ele, o motivo real da reclamação não é o barulho, mas a presença cada vez maior "dos filhos do asfalto" no baile. "Os pais não querem essa integração", disse.

Texto Anterior: Grupo enforca casal na zona sul do Rio
Próximo Texto: Mãe leva filha de 7 meses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.