São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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A questão do Carandiru

PAULO ROBERTO FARIA LIMA

Três anos após o massacre no pavilhão 9 da casa de Detenção, a "questão do Carandiru" continua e exigir solução imediata. Todos sabem que o "barril de pólvora" pode novamente estourar, com consequências imprevisíveis. Soluções existem. Aguardamos boa vontade política para executá-las.
O complexo do Carandiru é o maior sistema carcerário do país, encravado bem próximo da região central da mais populosa cidade da América Latina. Numa área de 427.600 m2, se amontoam 9.100 detentos em condições precárias, tendo em vista que a capacidade real do presídio é a de manter 5.900 pessoas. Não é à toa que, a qualquer momento, possam ocorrer rebeliões, tentativas de fuga e convulsões internas que escapem ao controle da administração penitenciária. Além do que, nesse contexto, é impossível efetuar um plano de ação humanitária, que propicie a recuperação e a reintegração do detento na sociedade.
Uma das propostas que desde 1983 (durante o governo Montoro) vem sendo debatida e apoiada pela maioria dos especialistas é a desativação do complexo do Carandiru para a iniciativa privada.
Até aí estamos de acordo com o projeto em questão. No entanto, estamos apreensivos em relação a um aspecto que até então não foi devidamente considerado: desativar a área, sim, mas a que preço?
O zoneamento da região onde se encontra o complexo do Carandiru possui a especificação Z-8. Áreas assim são destinadas geralmente a parques (como, por exemplo, o parque Ibirapuera, o Jardim Zoológico), aeroportos, cemitérios etc, não sendo, portanto, tão valorizadas no mercado imobiliário.
Se a desativação do Carandiru for realizada sem a alteração de zoneamento, corremos o risco da boa intenção malograr com a realidade. Caso ocorra a venda, nessas condições, o valor que será arrecadado (se encontrar empresas dispostas a investir num terreno com potencial mínimo de construção e ocupação de uso muito restrito) será realmente suficiente para a construção dos novos presídios?
Para evitar tal equívoco, é que estamos defendendo a alteração do zoneamento da região para Z-4, próprio para abertura de escritórios, empresas, residências, entre outros, ativando assim o interesse da iniciativa privada em investir, gerando mais emprego para a população.
Todos reconhecem a importância de dotarmos a zona norte de São Paulo com um novo visual urbanístico, além, é claro, de oferecer mais áreas de lazer e oferta de serviços a seus moradores. A desativação do Carandiru tornará a zona norte mais atraente, sem o incômodo da presença de um complexo penitenciário de triste memória.

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