São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Júlio César depõe e acusa outro 'grampo' no Planalto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto, depôs ontem na supercomissão do Senado, pediu desculpas ao senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) e voltou a insistir em que seu telefone no Palácio do Planalto também foi "grampeado". A PF admite apenas o "grampeamento" de sua casa.
Júlio César é suspeito de exercer tráfico de influência para apressar a aprovação do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) pelo Senado.
O embaixador começou seu depoimento negando a autenticidade das fitas gravadas pela PF com 13 ligações telefônicas mantidas por ele, mas acabou tendo d admitir que era um dos interlocutores quando a supercomissão colocou no ar o som de uma das conversas.
Santos confirmou ter indagado ao representante da Raytheon, José Afonso Assumpção, se ele havia perguntado a Miranda, relator do Projeto Sivam no Senado, "quanto é que ele queria".
O embaixador negou que sua intenção tenha sido a de "sugerir" que Assumpção pagasse alguma coisa a Miranda. "Foi uma pergunta interlocutória. Não tinha a intenção de sugerir que José Afonso pagasse qualquer coisa ao senador. Foi dentro de um contexto irônico", disse Santos.
Miranda não participou da reunião, embora seja um dos integrantes. Mandou o recado de que estaria em seu gabinete, à disposição da comissão. No início de seu depoimento, o embaixador chegou a pedir publicamente "desculpas" a Miranda, dizendo que, se havia feito a pergunta publicada na imprensa, o fez "em tom de troça".
O presidente da supercomissão, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), e o relator, Ramez Tebet (PMDB-MS), pressionaram o embaixador.
Quando ele tentou esquivar-se de responder a uma das perguntas do relator, alegando que teria de se "ater" à transcrição que lhe foi entregue pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, ACM foi duro: "Vossa excelência tem de responder ao que pergunta o relator".
Até as 19h, Júlio César era ouvido pela supercomissão. Aguardavam na sala ao lado, para também depor, o representante da Raytheon e o delegado Mário Santos, que pediu à Justiça o "grampo" do telefone do embaixador.
O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, acompanhava Mário Santos.
No início da reunião, ACM afirmou que Assumpção havia mandado expediente ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), colocando suas contas bancárias e a da empresa Líder Táxi Aéreo -a qual preside- à disposição da supercomissão.
Júlio César voltou a negar ter usado seu cargo para beneficiar a Raytheon. E reafirmou que seu telefone no Planalto também foi grampeado pela PF e não apenas o de sua casa. Caso esse outro "grampo" tenha realmente sido feito, é provável que conversas de Júlio César com o presidente Fernando Henrique também tenham sido gravadas.
A prova apresentada por Júlio César é a transcrição de uma conversa que, segundo ele, teria sido mantida do Planalto com o empresário José Maurício Bicalho Dias, diretor da empreiteira Andrade Gutierrez.

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