São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Programa já nasceu polêmico

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Sivam já nasceu polêmico, dado que todas as informações disponíveis levam à conclusão de que a escolha das empresas foi um jogo de cartas marcadas.
Uma das pessoas que participaram das primeiras reuniões em torno do projeto disse à Folha que o Sivam foi concebido e montado pela Esca.
A Esca era, na prática, um apêndice da Aeronáutica, criada e desenvolvida por oficiais dessa força que passavam para a reserva. "Aqui, nós somos o governo", diziam representantes da Esca nas reuniões com o setor privado para a montagem final do Sivam, antes mesmo de a empresa ser escolhida como controladora nacional do projeto.
O senador Jáder Barbalho (PA), líder do PMDB no Senado, chegou a dizer que "a Esca participou até da análise das propostas financeiras apresentadas pelas empresas que disputavam o fornecimento de radares".
Era natural que acabasse participando inclusive da seleção da empresa estrangeira (a multinacional norte-americana Raytheon).
O próprio presidente da Esca, Steve Ortiz, equatoriano que se naturalizou norte-americano, admitiu: "Fomos escolhidos pelo governo brasileiro antes mesmo da escolha da empresa que fornecerá os equipamentos, participando da seleção dessa empresa".
Mas também no caso da Raytheon, o jogo parecia de cartas marcadas.
Viagem
A deputada Irma Passoni (PT-SP) viajou em 1993, como presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, para Lexington, no Estado norte-americano de Massasuchets, sede da Raytheon, uma multinacional que se orgulha de movimentar anualmente US$ 12 bilhões.
Lá lhe foram apresentados todos os planos do Sivam, que, em tese, deveriam ser sigilosos.
Esse vazamento invalida o argumento utilizado pelo governo para não fazer uma concorrência pública convencional.
Motivo alegado: o conhecimento público dos equipamentos e do preparo dos programas de processamento e integração sistêmica "comprometeria o sistema".
Por isso, o governo decidiu-se por uma concorrência dirigida. Foram enviadas cartas a 16 embaixadas, que dariam conhecimento às empresas, mantendo confidenciais certos dados sensíveis.
O relato de Irma Passoni demonstra que a confidencialidade não foi respeitada.
(CR)

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