São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Até militares divergem sobre o projeto

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Indagar se o Sivam é ou não um projeto prioritário equivale a mergulhar em um Fla-Flu de opiniões, em que as paixões ditam as respostas.
A do almirante Mario Cesar Flores, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, por exemplo, é definitiva: "A não ser que a Amazônia seja considerada irrelevante para o futuro do país e do povo brasileiro, o Sivam é prioritário e sua não-realização será cobrada como dívida imperdoável pelas gerações futuras".
"Sua finalidade é dar suporte e zelar pela consolidação das ações de governo dirigidas para o desenvolvimento sustentável da região amazônica, (...) de modo a permitir a atuação coordenada e convergente das instituições públicas na Amazônia".
O porta-voz da Raytheon, Pat Coulter, dá um exemplo sedutor, em entrevista à revista "Earth Observation" ("Observação da Terra"):
"As imagens de satélites podem detectar um conteúdo de mercúrio mais alto do que o normal em um rio. Uma aeronave de vigilância será então lançada para ver se o mercúrio vem de mineração ilegal. Eventualmente, tropas podem ser enviadas para paralisar a mineração".
A hipótese não convence nem a área militar como um todo nem os ambientalistas. Para esses últimos, o Sivam não significa uma melhoria significativa na coleta de informações já hoje disponível.
E, mesmo que significasse, as ações repressivas e corretivas "vão esbarrar na capacidade operacional do governo para agir", diz João Paulo Capobianco, do Instituto Sócio-Ambiental.
Idêntica restrição parte até de um alto oficial da Aeronáutica: "Talvez seja preferível a ignorância do que gastar US$ 1,4 bilhão para ver o que acontece sem ter estrutura para combater os problemas", disse à Folha o brigadeiro Márcio Callafange, chefe do 7º Comando Aéreo da Amazônia.
Mesmo quando se desloca o foco para o combate ao narcotráfico, outra das presumíveis funções do Sivam/Sipam, há idêntico tipo de dúvida.
O general Thaumaturgo Sotero Vaz, que foi chefe do Comando Militar da Amazônia e hoje está na reserva, dizia que a Polícia Federal não tem estrutura para combater o narcotráfico, mesmo que todos os aviões clandestinos pudessem, de fato, ser localizados pelos equipamentos do Sivam.
Em depoimento a uma das comissões parlamentares que trabalhou este ano no caso Sivam, o general jogava outra pergunta provocadora:
"Como o governo quer assumir o comando de uma operação de US$ 1,4 bilhão na Amazônia, se não tem R$ 300 mil para fazer um postinho de 20 metros quadrados que abrigue as barreiras de fiscalização responsáveis por receber as informações do ar e executá-las em terra?".
Pergunta que vale para o Ibama, o instituto responsável pela vigilância do meio-ambiente. Seu pessoal calcula que seria necessária uma Polícia Florestal de 3 mil componentes para atuar a partir das informações do Sivam. O Ibama tem hoje 35 fiscais.
(CR)

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