São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Conselho de Entorpecente denuncia tortura em SC

SILVIA QUEVEDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

O Comen (Conselho Municipal de Entorpecentes) de Florianópolis (SC) denunciou ontem que o comerciante João Moacir Correa de Andrade, 34, teria sido torturado nas dependências da 1ª Delegacia de Polícia, no centro da cidade.
O Comen enviou correspondência ao governador de Santa Catarina, Paulo Afonso Vieira (PMDB), e ao Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo para comunicar o fato.
"O caso é um absurdo e o que mais me incomoda é que tudo isso está acontecendo bem perto de nós, em um Estado considerado desenvolvido em relação ao resto do Brasil", disse o presidente do Comen, Ivo D'Aquino Neto.
Dono de um restaurante e de uma loja de peças de veículos, Andrade diz que foi torturado durante quase 2h por policiais da DP no dia 9 de agosto passado.
Andrade, que é formado e pós-graduado em administração e hotelaria, afirmou que foi preso pela equipe da delegada Maria de Lourdes Barreto sob a acusação de pertencer a uma quadrilha que revendia carros roubados.
Ele disse ter sido torturado por três policiais, entre eles um identificado como Niltinho.
Andrade negou pertencer à quadrilha. Segundo ele, ao reivindicar "direitos constitucionais", chegou a ser "zombado" pelos policiais.
Andrade disse que outras quatro pessoas teriam sido torturadas no mesmo dia, inclusive um funcionário seu, que teria ficado ferido, com hematomas na cabeça e nas pernas. "Eles queriam me obrigar a dar detalhes de um Opala que eu havia vendido. Como eu não lembrava, partiram para a tortura. A delegada estava na sala ao lado e não fez nada."
Andrade disse que não fez a denúncia antes por temer a polícia. "Quando disse que procuraria a Corregedoria da Polícia, a delegada me disse que estava para se aposentar e que, se eu lhe causasse algum problema, ela iria me caçar. Temo também que ela forje provas para me incriminar."
A delegada Maria de Lourdes Barreto disse ontem à Agência Folha que "desconhece" a denúncia de tortura em relação à 1ª DP. "Se ele tivesse sido torturado, por que não falou quando saiu daqui?"
Ela disse que o "inocente que se diz torturado" é autor da adulteração e implantação de chassis de veículos. "Essa é a razão pela qual ele está sendo processado".
Maria de Lourdes Barreto mostrou laudos da perícia da Polícia Técnica, comprovando a adulteração de quatro chassis e a implantação de outros seis, em carros que a polícia disse ter apreendido em poder de Andrade.
A delegada também negou conhecer um policial da 1º DP chamado "Niltinho" e afirmou que não pediu a prisão de Andrade na ocasião "por falta de escrivão para fazer o trabalho".

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