São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Tolerância oficial favorece 'maquiagem' de dados

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

Em recente almoço de executivos financeiros, um auditor pediu salva de palmas para o banco privado que patrocinava o evento.
Tudo bem, não estivesse o banco, na ocasião, sendo alvo de rumores do mercado. E se o anfitrião não fosse da firma de auditoria que cuida do balanço do banco.
O episódio mostra que os auditores não são tão independentes quanto sugere o ofício. Mas o Banco Central parece querer atribuir a eles o papel de bode expiatório para a tolerância oficial em relação a balanços "maquiados".
As autoridades fechavam os olhos para malabarismos contábeis que transformaram muitos balanços de bancos estaduais quebrados em demonstrativos de instituições das mais saudáveis (em geral, a partir de acordos selados pelos governos estadual e federal).
Raríssimos auditores alertaram os acionistas, nos pareceres, para os efeitos dessas ficções contábeis. Afinal, elas eram promovidas pelo acionista principal, com a chancela da autoridade monetária, e não era conveniente aos auditores contrariar os seus contratantes.
Durante muitos anos, uma firma de auditoria prestou serviços ao Banco do Brasil porque ganhava concorrências oferecendo preços bem mais baixos. Sabia que auditar o BB abria espaço no mercado.
Raríssimos auditores foram advertidos pela CVM, o xerife do mercado, por omissões em seus pareceres. Foi preciso o BC se envolver numa operação controvertida, no socorro a bancos privados, para que viesse à tona a questão da transparência dos balanços.
Os auditores ainda convivem com critérios conflitantes e muitas vezes os objetivos da Receita Federal, da CVM e do próprio BC se chocam com as "normas contábeis geralmente aceitas".
A exigência de maior rigor e a disposição para punir auditores são medidas positivas. Mas chegam com bastante atraso. E bem depois de o próprio BC constatar que o parecer dos auditores no balanço do Econômico não advertia suficientemente para sua situação real.

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