São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Espetáculo une filme, voz e sonoplastia

MONICA MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O som e uma voz do cinema mudo japonês chegam a São Paulo na próxima semana. A mostra "Benshi: a Magia do Cinema Mudo Japonês" traz uma tradição única do cinema mundial.
Midori Sawato, discípula de Shunsui Matsuda, o patriarca dos benshi morto em 1987, exibe esta arte em apresentações de filmes de Kenzo Mizoguchi, Buntaro Futagawa e Daisuke Ito.
"Com o benshi os japoneses tinham, além da narração e sonoplastia, um espetáculo. Eles arrastavam multidões até o advento do cinema falado", diz Jo Takahashi, coordenador de projetos da Fundação Japão, que promove o evento.
"A origem deles está no teatro kabuki e no de marionetes buraku. Nos teatros clássicos sempre existiu a figura do narrador. Esta tradição foi adaptada para o cinema. Pelo menos na década de 20 a projeção era pano de fundo para estes narradores", diz Takahashi.
Ele lembra que a década de 20 foi uma era de abertura à cultura européia no Japão. Este artistas não eram apenas performers. Eles traduziam conceitos e imagens ocidentais, desconhecidas do público. "Era um duplo canal. Uma espécie de tecla SAP daquele tempo", diz Takahashi.
"Acho bonito o esforço de absorver uma tecnologia distante adaptando ao olhar japonês", diz a cineasta Olga Futemma.
Teruo Koizumi, 74, há 61 no Brasil, é um sobrevivente da tradição benshi em São Paulo. Ele lembra das dificuldades da atividades quando percorria o Estado de São Paulo.
"Fazíamos apresentações pelo interior para as comunidades de trabalhadores agrícolas japoneses. Percorríamos tudo em um automóvel Ford modelo 28. A gente sofria", diz Koizumi, que trabalhou como benshi dos 24 aos 31 anos.
A maioria das performances de Koizumi eram em filmes de guerra e dramas. "Gostava mesmo de fazer os filmes do Mizogushi. Em São Paulo, eram apresentados em teatros do Brás, que já não existem", diz Koizumi.
"Eu usava sempre um microfone e explicava tudo. Falava tudo mesmo. Japonês adora benshi. Aplaude bastante no meio do filme", afirma Koizumi. "Parei quando me casei e porque o cinema falado acabou com a atividade aqui em São Paulo. Não há mais filmes mudos. Mas sempre que sou convidado faço", diz Koiszumi.
A programação começa sexta, dia 8, às 20h30, com exibição e performance do filme "Jirokichi, o Rato", de Daisuke Ito. Sábado, às 18h, este filme é reapresentado, sem performance. Às 20h, Midori Sawato faz performance de "A Feiticeira das Águas", de Kenji Mizoguchi. O filme também é exibido domingo, às 16h, sem performance. "O Samurai Serpente", de Buntaro Futagawa, é apresentado às 18h. Às 20h está programada a exibição deste filme, com performace benshi.

"Benshi, a magia do cinema mudo"
Quando: de 8 a 10 de dezembro
Onde: Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158. Tel. 280-0896)
Como Assistir: serão distribuídas senhas para as exibições com performance. Para as projeções sem performance não é preciso senha. A entrada é franca.
Onde pegar senhas: MIS (av. Europa, 158, Jardim Europa, das 14h às 18h); Fundação Japão (av. Paulista, 37/2º andar); Folha (al. Barão de Limeira, 425, das 9h às 18h).
Patrocínio: Banco América do Sul e Varig

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