São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Esperando Papai Noel

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - A Polícia Federal não existe. Não pense que leu errado. Repito: é obra de ficção a nossa Polícia Federal. E não o digo da boca para fora. Há provas materiais.
Refiro-me a um relatório de Vicente Chelotti para Nelson Jobim. São oito páginas em que o diretor da inexistente polícia oferece "respostas" ao ministro sobre o escândalo do "grampo".
Chelotti começa por reafirmar a lenda de que tudo começou com denúncias telefônicas anônimas. Quantas? Não se sabe ao certo: "Cerca de cinco." A suposta polícia não possui "registro dos dados".
O ministro quis saber que providências adotou o Setor de Operações da suposta polícia, estruturado com dinheiro do governo americano, para localizar os telefonemas. Ora, nenhuma. Não há equipamentos para "identificar origens de ligações telefônicas". E o que fizeram com a dinheirama dos gringos que não sobrou nem para um Bina?
O "denunciante" forneceu à fictícia polícia o nome completo de Júlio César Gomes dos Santos e seus telefones. Solicitaram-se investigações. Passados 11 dias, tudo o que se obteve foi a confirmação dos dados.
A ninguém ocorreu bater para um dos telefones e, como quem não quer nada, indagar da empregada: "Escuta, filhinha, como é mesmo o nome do dono da casa? Ah, sim. E onde é mesmo que ele trabalha? No Planalto! Oh, que interessante!".
Optou-se pela instalação de "grampo" no telefone do "vulgo JC". Feita a bisbilhotagem, verificou-se que o JC, além de auxiliar direto de sua excelência, traficava influência no Planalto. Editaram-se as conversas mais cabeludas e inutilizaram-se as demais. Sim, desgravaram as fitas (!?).
Na primeira quinzena de outubro, relatório sobre o caso chegou às mãos de Chelotti. E o que fez? Ora, nada. Engavetou-o. Só comunicou ao ministro, em tese seu superior, no dia 13 de novembro, depois que o mundo já sabia o que se passava sob o nariz do presidente da República.
Tudo explicado, Jobim deu-se por satisfeito. Manteve Chelotti e enviou o relatório ao Congresso. Como se vê, além de não dispor de polícia, mas de "Imperícia Federal", o país conta com um ministro da Justiça que, no Natal, colocará o sapatinho na janela.

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