São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
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Para que oposição?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Já não me lembro quem foi que disse "desgraçado é o país que precisa de heróis". Gostaria muito de saber como esse personagem qualificaria o Brasil, país que não só precisa de heróis e não os encontra como ainda se dá ao luxo de prescindir até de oposição para que o governo se enrole todo.
No governo Collor, a oposição estava ainda digerindo a derrota eleitoral quando do coração da família presidencial -mais exatamente da boca do irmão do presidente- saiu o torpedo que acabou levando o governo a pique apenas alguns meses mais tarde.
Agora, com perdão da redundância, é da mais íntima intimidade do Palácio do Planalto que surge uma operação na qual o governo se afoga a cada dia que passa, a cada explicação que tenta dar, a cada versão que aparece na mídia.
Refiro-me, é claro, ao "grampo" no telefone do então chefe do Cerimonial, Júlio César Gomes dos Santos, ordenado ou ao menos inspirado, direta ou indiretamente, por um homem da mais absoluta confiança do presidente, Francisco Graziano, seu chefe de gabinete.
No início, até se especulou com a suposição de que o governo estava deslocando os holofotes para o "grampo" como forma de desviar atenções de eventuais maracutaias no projeto Sivam, também alcançado pelo "grampo".
Até nisso a oposição revela-se fora de foco. "Grampo" e Sivam viraram irmãos siameses, um vínculo que Graziano só reforçou ao dizer que havia ajudado a combater corrupção no governo.
A pergunta certa que uma oposição menos baratinada deveria fazer é simples: qual corrupção? Um difuso tráfico de influências ou um tráfico de influências precisamente localizado (o projeto Sivam)?
Já cobrei neste espaço uma definição de Graziano, que se torna ainda mais necessária e urgente agora que ele se coloca como paladino da anticorrupção: o "grampo" visava o embaixador e seu suposto potencial de corrupção ou visava especificamente o Sivam e só por tabela o envolvimento nele do embaixador?
Na primeira hipótese, a missão de Graziano se esgotou, dado que o embaixador foi afastado. Na segunda, o problema continua do mesmo tamanho.

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