São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mexicanos fazem festa aos seus parentes mortos

ROBERTO LINSKER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A palavra morte é daquelas que esquentam e queimam os lábios, a maioria das pessoas imediatamente a relaciona com outras como tristeza, morbidez, pranto, dor, melancolia, sofrimento, escuridão, dúvida, medo, preocupação e fim.
A morte é um fato biológico que significa a extinção da vida. Mas, relaxe, afinal a viagem é para o México.
Quem já teve a oportunidade de vivenciar o cotidiano mexicano, longe das areias de Cancún, certamente terá percebido como ele é permeado por um quê de tragicidade: amores, cores violentas, músicas enciumadas, traições e... morte, inevitavelmente.
País de contrastes e revoluções intermináveis, país onde vida e morte se misturam até se tornar um caldo indissolúvel, no meio do qual os mexicanos festejam, riem, dançam, ritualizam, ironizam e louvam: a vida e a morte.
Não é por acaso que gritam: "si me han de matar mañana, que me matem de una vez"
Para o escritor mexicano Octavio Paz, "a morte é um espelho que reflete as vãs articulações da vida". Parece até uma inversão de papéis, como se a morte esperasse o fim da vida para então "viver" ela própria.
Mas o México é isso, sempre foi para os antigos mexicanos. Maias, mixtecas, toltecas, astecas e outras culturas acreditavam que a vida se prolongava na morte.
Que ambas não eram dois entes separados e opostos. A morte não era o fim natural da vida, mas uma fase de um ciclo interminável, infinito. Uma eterna dualidade que, paradoxalmente, nem a morte poderia separar.
Hoje, à beira de um terceiro milênio que se anuncia via Internet, interligando continentes, eliminando barreiras e aproximando culturas, a questão continua insolúvel, viva.
Por isso, o Dia de Todos os Santos, A Festa dos Mortos, é um evento de extrema importância no contexto mexicano e particularmente no domínio de Yucatán. E não se reduz a um único dia, estendendo-se de 31 de outubro até 2 de novembro e com preparativos que se iniciam meses antes da data.
Ao festejar os mortos, os vivos aguardam a sua presença intangível e tanto nos cemitérios, igrejas quanto nas residências, diversas oferendas são realizadas como demonstração de alegria pela visita dos animais. Estes são momentos que estreitam os laços sociais e familiares entre aqueles que ainda não se foram.
O banquete denomina-se hanal pixam, consistindo de uma variedade de pães de milho e doces com formatos de ossos e caveiras, e bebidas em quantidade suficiente para ofertar familiares e defuntos.
Além destes, velas de cera negra, flores de papel e objetos de cerâmica são especialmente confeccionados para a ocasião. É um momento na vida mexicana onde fica patente a fascinação e sedução que a morte provoca.

Texto Anterior: Cacaxtala derruba mitos sobre o passado
Próximo Texto: Furacão poupa hotéis ao passar por Cancún
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.