São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995
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Atriz foi símbolo da mulher carioca

DA REPORTAGEM LOCAL

Viva, Leila Diniz foi um panfleto de comportamento. Morta em 72, aos 27 anos, em um desastre de avião, virou mito forjado na combinação com a imagem alegre de musa ipanemense dos anos 60.
Os clichês de transgressão, revolução e prazer povoam as imagens de Leila Diniz: a primeira grávida de biquíni; a namorada de incontáveis namorados; a atriz de novelas de Gloria Magadan e de filmes do Cinema Novo; a mãe de Janaína; a primeira mulher a pontilhar uma entrevista do "Pasquim" com palavras impublicáveis no auge da censura, em 1969.
Os filmes, vídeos e biografias da atriz sublinham e reforçam este paradigma com as saudações conhecidas há décadas. A eterna Rainha da Banda de Ipanema chega agora em um livro que procura se aproximar de suas lições de sinceridade.
Em "Toda Mulher é Meio Leila Diniz", a antropóloga Mirian Goldenberg, não faz mais uma elegia. A originalidade de seu trabalho está em procurar mostrar o que fez de Leila Diniz, Leila Diniz.
Traz uma análise da cena artística da época. Inclui trechos das séries de entrevistas com familiares da atriz. Elas reconstroem a momentos de tristeza, dor e dados pouco explorados.
O livro comenta o processo de análise, os diários, a figura forte do pai, que se matou nove anos depois da morte de Leila. Mostra o sofrimento com as traições do marido Domingos de Oliveira.
"O sofrimento não combina com o mito. Ela não nasceu alegre, feliz e revolucionária. Em vez de se tornar vítima, transformou falta em virtude. Com a falta de um lugar na família e na sociedade, criou um lugar só dela", diz Goldenberg.
Goldenberg usa autores como Norbert Elias, Georges Duby, e Pierre Bourdieu para analisar por que Leila se tornou um modelo de comportamento e referência como símbolo da mulher carioca.
O resultado foram as homenagens carinhosas do imaginário nacional: músicas de Erasmo Carlos e de Rita Lee, poesia de Drummond, nome de uma gripe que assolou o Rio em 70.
Só não ganhou uma rua em Ipanema com seu nome porque a burocracia não permitiu que a Rua Jangadeiros virasse Rua Leila Diniz.

"Toda Mulher é Meio Leila Diniz", Mirian Goldenberg, Editora Record, 252 páginas. R$ 23,90.

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