São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995 |
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Ismael Ivo tem projeto com Gerald Thomas
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
"Othello", apontado como um dos melhores espetáculos da última temporada alemã, só retorna ao Brasil em 1996, quando o bailarino se apresenta em sete capitais a convite do Instituto Goethe. Ivo viaja hoje para Salvador e depois para São Paulo, com uma equipe da TV alemã que veio fazer um documentário sobre a vida do brasileiro, escolhido para ser coreógrafo do Teatro Nacional da Alemanha, em Weimar, até o ano 2000. Leia a seguir trechos de entrevista à Folha, em que ele adianta que seu primeiro projeto no Teatro Nacional terá direção de Gerald Thomas. * Agência Folha - Como você foi escolhido para coreógrafo principal do Teatro Nacional da Alemanha? Isamel Ivo - Meus últimos trabalhos tiveram um sucesso grande na Alemanha. "Othello" foi considerado pela revista "Der Spiegel" como um dos espetáculos mais notáveis da última temporada. "Francis Bacon" (1994) foi considerado o mais controvertido. O diretor-geral do teatro, então, me ligou e ofereceu o posto. Agência Folha - O que você está preparando para o Teatro Nacional? Ivo - Para o meu primeiro trabalho em Weimar, o qual provavelmente o Gerald Thomas vai fazer a direção, escolhi "As Bachianas" de (Heitor) Villa-Lobos. Resolvi começar a minha estadia no Teatro Nacional da Alemanha com uma obra de um compositor brasileiro. A segunda obra vai ser o "Fausto" de Goethe. Agência Folha - Por que você colocou Otelo como alguém que sofre preconceito racial? Ivo - "Othello" é um projeto que eu sonho em fazer desde a minha adolescência. (Naquela época) Eu já queria saber porque tem sempre um ator pintado de negro fazendo o personagem. Esta dúvida eu transferi como uma reflexão racial dentro do espetáculo. O meu "Othello" não é só o herói negro, o pássaro exótico. Ele tem suas vitórias e suas fraquezas, suas certezas e dúvidas. Agência Folha - Mas não existe o risco de reduzir a obra a um maniqueísmo de branco e negro em vez de ampliar seu significado? Ivo - Acredito que não. Eu queria dialogar com a obra de Shakespeare, colocar minhas raízes em paralelo com esta obra da cultura universal. Agência Folha - Por que você usa só homens no palco, inclusive nos papéis femininos? Ivo - Na época em que Shakespeare escreveu "Otelo", as mulheres ainda não tinham permissão na Inglaterra de pisar o palco. Hoje isso tem outras implicações. Não é um espetáculo andrógino, mas sobre as condições humanas. A partir de um momento, você esquece que se trata de homem ou mulher, vê apenas Otelo e Desdêmona. Texto Anterior: Sonho e realidade se confundem na narrativa Próximo Texto: Angela Ro Ro despreza hits em novo show Índice |
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