São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Mais da metade abandona terras invadidas em 1979

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDA ALTA

O mais antigo assentamento ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, no Rio Grande do Sul, o da fazenda Macali, em Ronda Alta, abriga hoje apenas 34 das 96 famílias que invadiram, em 79, a propriedade do Estado explorada pela Madeireira Carazinhense Limitada (Macali).
As famílias que abandonaram a área foram, em sua maioria, para a região de Nonoai, na divisa com Santa Catarina, de onde tinham sido desalojadas por ocuparem uma reserva indígena.
Uma parte dos que saíram trocou o lote de 15 hectares por áreas geralmente menores na região de origem. Outros venderam a gleba recebida e foram morar na cidade.
A venda da terra, considerada ilegal, foi consentida pelo Estado. Problemas do solo -que exige mecanização- e a falta de assistência e financiamento foram as principais causas do abandono, segundo a Secretaria da Agricultura, responsável pela implantação. Famílias contraíram dívidas e foram forçadas a negociar o lote.
"O governo deu um filé para cachorros sem dentes", diz Hortêncio Venício da Trindade, 28, técnico em agropecuária da Emater em Ronda Alta, órgão de extensão rural ligado ao governo do Estado.
Hoje, os agricultores mais bem-sucedidos conseguem obter receita líquida mensal entre R$ 600 e R$ 700 e acrescentam carne de porco, frango ou gado ao cardápio diário. Nem sempre a proteína animal está no prato das famílias mais pobres, que ganham entre R$ 60 e R$ 70 por mês.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sarandi, Osvaldo Collet, diz que eles poderiam estar em melhor situação se houvesse mais incentivo à produção agrícola. "Antes da reforma agrária é preciso uma política agrícola. Não adianta dar terra a cinco, enquanto dez estão abandonando a agricultura".

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