São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Filhos de assentados querem mais terras

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDA ALTA

Filhos dos assentados na fazenda Macali estão engrossando os acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Rio Grande do Sul. Segundo os pais, as glebas que possuem, com 15 hectares, são insuficientes para a família.
Angelo Guez, 57, tem três filhos adultos (Cresci, Orilde e Aires) acampados há um ano.
Primeiro, eles foram para Cruz Alta e agora estão em Júlio de Castilhos, à beira da BR-158. "Tomara que eles consigam terra, porque viver rolando por aí não é fácil", disse a mãe, Delir.
Ricieri Pitol, comprador de um lote na Macali, tem um filho adulto acampado. "É difícil comprar outro lote. Vamos ver se o rapaz consegue ganhar terra", disse Pitol, que tem outros dois filhos.
Não são só filhos de assentados estão indo para acampamentos. José Brachak, 46, assentado na Macali há 16 anos, disse que está pensando em "participar de uma invasão para garantir terra" para os seus três filhos.
Entre os agricultores em melhor situação no assentamento da Macali, estão os que integram o único grupo que planta e comercializa sua produção coletivamente.
O grupo (cinco famílias em cinco lotes) é liderado pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ronda Alta, Ivo Barichelo, 38, e pelo presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais, Ricieri Pitol, 54.
Só uma dessas famílias -os Tauscher- está na área desde o início do assentamento. O grupo vende 300 porcos por ano para a Sadia. As notas da comercialização são mostradas com orgulho.
Ele exibe o mesmo sentimento ao falar da casa de alvenaria (286 m2 em dois pisos), que sua família terminou de construir. Tem luz e caixa d'água. Ao lado, quase caindo, ainda está a casa de madeira, onde a família morou nove anos.
"Não enriqueci, mas acho que agora está mais fácil trabalhar", disse Pitol, que consegue um rendimento líquido entre R$ 500 e R$ 600 por mês. Não possui carro.
A comida é farta. Pitol produz vinho artesanalmente e tem dezenas de salames, copas e queijos feitos por sua mulher, para o consumo das famílias do grupo.
Barichelo, desde 1984 na Macali, aprova a forma coletiva de trabalho. "Temos um trator que, sozinho, não teria como comprar."
Três anos após o início do assentamento, a propriedade foi dividida em Macali 1 e Macali 2. Na primeira, a produção era individual; na segunda, coletiva. Com o tempo, a produção coletiva foi abandonada. Dessa tentativa, só resta o grupo das cinco famílias.
Para explicar o fracasso da produção coletiva, a lavradora Vicentina Vani, 58, disse que alguns pessoas não pagavam o custo de manutenção dos dois tratores. Ela está assentada no local junto com o marido, Irano, desde 1979.
O lavrador José Brachak tentou a produção coletiva mas concluiu que, sozinho, tem mais agilidade para resolver os problemas.
(CAS)

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