São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Aplicações perdem R$ 2,9 bilhões

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os saques superaram os depósitos em CDBs, cadernetas e fundos de investimento em R$ 2,9 bilhões nos primeiros 23 dias de novembro (último dado oficial).
A perda maior foi registrada pelos fundos, de R$ 1,9 bilhão.
Somente duas das alternativas analisadas, os FIFs (Fundos de Investimento Financeiro) de curto prazo e de 30 dias, registraram depósitos maiores do que saques no período de 1º a 23 de novembro -respectivamente, R$ 185 milhões e R$ 14 milhões.
A perda na poupança ligada ao sistema habitacional (chamada de SBPE) foi de R$ 559,7 milhões e nas cadernetas rurais, de R$ 8,6 milhões.
Os CDBs prefixados emagreceram R$ 76 milhões e os pós-fixados, R$ 233 milhões.
Grande parte desses recursos não foi para o consumo -a exceção é, segundo Cândido Bracher, do BBA Creditanstalt, de parcela dos saques na poupança.
O grosso do dinheiro simplesmente deixou de existir. Ou, nas palavras, de Joaquim Elói Cirne de Toledo, economista da USP e vice-presidente da Nossa Caixa Nosso Banco, "a restrição ao crédito acaba destruindo dinheiro."
Toledo explica que, nos momentos de expansão de crédito, os bancos criam dinheiro.
A partir de um depósito em conta corrente de, digamos, R$ 1 milhão, o banco repassa parte ao BC (compulsório) e utiliza o restante em empréstimos. Quem recebeu o empréstimo, de R$ 500 mil, pode depositar em sua conta corrente. Ou seja, via crédito, o banco, a partir de R$ 1 milhão, passou a ter depósitos de R$ 1,5 milhão.
Nos momentos de restrição ao crédito acontece o inverso. O banco cobra o pagamento do empréstimo. O devedor é obrigado a vender bens de valor equivalente para fazer o dinheiro. Quem compra saca o dinheiro de suas aplicações.
Assim, diz Toledo, "é natural que os depósitos e as aplicações tenham captação negativa (saques maiores que os depósitos)".
Para ele, há um "temor generalizado ao crédito" vigorando no mercado. A palavra de ordem nos bancos é cobrar as dívidas e ser seletivo na concessão de novos empréstimos.
O aperto, acredita, foi iniciado pelo BC, que praticou uma política de "juros desnecessariamente altos" e, entre outras medidas, reduziu os prazos do crediário.
Mas, agora, diz Toledo, a restrição deixou de ser apenas o resultado de uma ação do BC para ser a política adotada voluntariamente pelos bancos.
Esse temor do crédito, analisa Toledo, acaba se materializando em uma crise de bancos, "como nós vimos em dois episódios recentes (Econômico e Nacional)".
Mais. O clima criado por esse temor vai acabar fazendo do Natal de 1995 desnecessariamente pior do que foi o de 1994.
"Esse medo dos empresários e dos bancos no futuro, especialmente do que vai acontecer no primeiro trimestre, é que vai produzir um Natal pior", diz, para depois acrescentar: " Se olhassem o comportamento da demanda, do consumo, veriam um quadro muito diferente".
Para Toledo, o governo não tenta reverter essas expectativas porque vive um dilema: a retomada do crescimento "traria problemas na área externa" e a continuidade do temor provoca problemas "na área financeira".
Restou a alternativa de, mantendo a economia desaquecida, contornar a crise nos bancos.

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sobre crédito nas págs. 2-6 e 2-7

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