São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Múltis esperam reformas para investir mais

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O afrouxamento no crédito da última semana vai impedir uma segunda onda de inadimplência no 1º trimestre de 1996, mas é uma medida ainda fraca para estimular a retomada de investimentos produtivos no país.
A opinião, unânime, é de dirigentes de empresas transnacionais ouvidos pela Folha na sexta-feira.
Hermann Wever, presidente da empresa de capital alemão Siemens no Brasil, diz que o alívio na área do crédito é um incentivo "modesto" para os investimentos.
"De certa forma, as medidas, que estão na direção certa, permitem esperar um 1º trimestre de 1996 não tão negativo como estávamos antecipando", afirma.
Wever diz que as medidas terão pouco impacto no processo de investimentos estrangeiros, porque eles se guiam por aspectos de médio e longo prazo.
Wever afirma que um dos maiores entraves aos investimentos estrangeiros é a valorização do real frente ao dólar. "A atual posição cambial exerce um desestímulo fortíssimo para o movimento de capitais que poderiam transformar o Brasil em base de exportação de multinacionais."
Para Omar Carneiro da Cunha, presidente da empresa de capital norte-americano AT&T, o afrouxamento do crédito pode ter algum impacto na demanda, mas isso não basta para motivar grandes investimentos estruturais.
Para ele, é difícil determinar o montante de investimentos estrangeiros em 1996. "As intenções já declaradas mostram que o valor será significativo, se as reformas forem concluídas para eliminar o chamado custo Brasil".
Takanori Suzuki, consultor da Deloite Touche Tohmatsu e ex-presidente do Banco de Tóquio no Brasil, diz que "o Plano Real é um grande avanço na economia brasileira, mas os investidores japoneses ainda estão cautelosos e vão adiar novos investimentos até a conclusão das reformas estruturais, principalmente a tributária e a da Previdência", afirma.
Os investidores vão esperar uma "correção do câmbio", afirma, porque a rentabilidade da exportação está "piorando" devido ao aumento dos custos e uma taxa de câmbio relativamente fixa.
Roberto Muller, presidente da empresa de capital suíço-sueco ABB no Brasil, diz que a demora das reformas estruturais são obstáculo à decisão de investimentos produtivos no Brasil.
"Há muita expectativa dos investidores estrangeiros, que sentem que o país está na direção certa, mas o Plano Real não está funcionando a nível da instrumentalização dos investimentos."
José Luiz Dias, gerente geral de planejamento da Philips, de capital holandês, diz que a empresa confia no Brasil, onde vai faturar US$ 1,4 bilhão neste ano. Porém, vê nos altos encargos trabalhistas um obstáculo a investimentos.
Enrico Misasi, presidente da Olivetti, de capital italiano, diz que a imagem do Brasil está progredindo. Ele vê, porém, aspectos ainda negativos para a atração de investimentos estrangeiros na apatia das privatizações, falta de proteção à propriedade industrial, câmbio defasado e "custo Brasil".

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