São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Crediário é o novo filão dos bancos

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Patinho feio do setor financeiro, o velho crediário está voltando a seduzir os banqueiros neste final de ano. Não em forma de cisne, como no conto infantil. O CDC (crédito direto ao consumidor), em tempos de Real, é a nova galinha dos ovos de ouro do mercado.
Assim o dizem alguns "head hunters"(caçadores de talentos) que têm sido contratados pelos bancos para encontrar executivos especializados em CDC.
"O crediário quase desapareceu nos anos de inflação elevada, pois o open market (mercado aberto) era mais lucrativo", diz o "head hunter" Paulo Valin, sócio da VBCA International.
"Agora, com a estabilidade econômica, o financiamento ao consumo terá um papel muito maior na receita dos bancos."
Valin está caçando há uma semana um executivo do setor para ocupar a diretoria de um banco nacional interessado nesse nicho. A tendência de ampliação do CDC nos próximos anos e o afrouxamento das restrições ao crédito ao consumidor, na semana passada, animaram a instituição.
A tarefa da VBCA não é das mais fáceis. São poucos os executivos experientes que continuaram na atividade após seu esvaziamento gradual dos últimos dez anos.
E, como os consumidores deram um show de inadimplência no primeiro semestre deste ano -por conta da alta dos juros e do desemprego-, os bancos buscam executivos cautelosos no crediário.
"Estamos em busca de um executivo que saiba reduzir o risco do negócio junto à clientela sem prejudicar seu crescimento", afirma Gilson Coelho, o "C" da VBCA.
É um mercado tão especializado que, às vezes, o diretor contratado traz junto sua equipe de vendas. Foi o caso de Hamilton Barreiros, um dos veteranos do CDC.
Barreiros foi contratado há um ano e meio para montar a área de varejo do Excel Banco, do banqueiro Ezequiel Nasser. Levou consigo 272 funcionários, que trabalhavam com ele na financeira Mesbla. "O CDC está voltando com tudo, mas quem se afobar vai perder dinheiro. Essa cultura não se aprende de uma hora para outra", diz Barreiros.
Desde abril do ano passado, o Excel fechou 65 mil contratos de CDC, todos na área de veículos seminovos. No auge, essa carteira chegou a R$ 130 milhões -uma boa fatia do mercado global de CDC, estimado em R$ 500 milhões por mês.
Além do Excel, outros bancos de atacado estão investindo nesse mercado. O Banco Icatu, por exemplo, comprou em janeiro 40% da tradicional Fininvest, com opção de compra de mais 30% em janeiro de 1996. O Unibanco, por sua vez, contratou Ângelo Bonomi, da financeira Martinelli.
"O crediário é um filão no mundo inteiro e, no Brasil, tornou-se novamente importante com a perspectiva de estabilidade a longo prazo", avalia Nelson Assad, diretor do Icatu.
A Fininvest, com 1,5 milhão de clientes ativos, tem uma carteira de CDC da ordem de R$ 290 milhões. Até o final do ano, deve alcançar R$ 320 milhões, prevê Assad, animado com o "refresco" do BC, que eliminou, na quarta-feira passada, o recolhimento compulsório de 5% sobre os empréstimos.
As perspectivas do setor para 1996 são alentadoras, diz Manoel de Oliveira Franco, diretor executivo do Banco BMG e presidente da Acrefi, associação das financeiras.
A queda gradativa das restrições ao crédito e dos juros devem dar novo fôlego ao CDC, que nos anos 60 financiou o desenvolvimento da indústria automobilística no país, observa Franco.

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