São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995 |
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Arte e propaganda
VALÉRIA CÁSSIA DOS SANTOS; ROBERTO NOVELLI FIALHO VALÉRIA CÁSSIA DOS SANTOS e ROBERTO NOVELLI FIALHOVivemos na era da propaganda. Vende-se de tudo, a qualquer hora, em qualquer lugar. E a cidade em que vivemos começa a apresentar os sintomas decorrentes desse abuso. Qualquer espaço vazio logo tem seu uso convertido para vender um produto. Daí, em grande parte, o alto nível de poluição visual de nossa cidade. Um festival de outdoors, luminosos, totens, protetores de árvores e placas de sinalização, tudo muito desordenado, sem uma regulamentação coerente ou fiscalização. A iniciativa da Prefeitura de São Paulo de promover uma limpeza nas fachadas no centro da cidade foi um embrião promissor. O trabalho na rua São Bento, por exemplo, revelou fachadas belíssimas. A iniciativa, porém, não se espalhou pelo resto da capital. Nesse contexto, temos o caso das empenas, que são aqueles paredões dos edifícios sem janelas ou qualquer tipo de abertura, surgidas na maioria das vezes com a demolição de um prédio vizinho, o que revela uma face do edifício que ficaria oculta, encostada a outra construção. Quem anda pela região do centro velho ou passa pelo "Minhocão" certamente percebe a presença dessas empenas, que estão em péssimo estado de conservação ou tomadas por um festival de anúncios, aumentando a desorganização visual predominante. Podemos citar, porém, bons exemplos da utilização dessas empenas, como o mural de Tomie Ohtake, na rua Coronel Xavier de Toledo, e o de Alberto Volpi, na rua da Consolação, realizados na década de 80 e patrocinados pelo Banco Nacional, com a colaboração da Emurb. Infelizmente, os bons exemplos não são muitos. É claro que a simples "maquiagem" das empenas não resolve o problema da falta de planejamento da cidade ou as falhas de um projeto arquitetônico. Não é possível também ignorar que, para os proprietários de edifícios com empenas, as propagandas são uma boa opção para a conservação da fachada "cega" sem onerar o orçamento. Para o anunciante, esse tipo de solução oferece a garantia de que seu anúncio será visto por um número considerável de pessoas. Uma nova proposta para esses espaços vem sendo utilizada em alguns pontos da cidade, com a projeção de imagens por meio de slides durante a noite sobre a superfície das empenas. Mas o recurso ainda é utilizado com fins unicamente comerciais. Uma boa maneira de conciliar os interesses seria o desenvolvimento de estruturas conjuntas de ação, nas quais, em forma de apoio cultural ou de patrocínio, as empresas que se utilizam desses espaços financiariam o trabalho de artistas para a confecção de murais ou outras manifestações artísticas compatíveis, num tipo de operação semelhante ao patrocínio de peças de teatro, espetáculos de dança e outras empreitadas culturais. O evento de inauguração de uma dessas obras certamente ocuparia um bom espaço na mídia e o convívio da população com a obra na cidade com certeza manteria na lembrança das pessoas o produto do patrocinador. A exibição de slides de obras de arte poderia mostrar exposições inteiras em uma noite de congestionamento. Seria ingenuidade acreditar que isso resolveria todos os problemas citados. Mas, com a colaboração do setor privado, eles poderiam ser minimizados, e novos espaços surgiriam, revitalizados, tornando a paisagem urbana de São Paulo um pouco mais agradável. Todos nós agradeceríamos. VALÉRIA CÁSSIA DOS SANTOS, 25, e ROBERTO NOVELLI FIALHO, 31, arquitetos, são sócios-diretores da Nave Arquitetura e Serviços S/C Ltda. Texto Anterior: Condomínios sobem 2,94% em outubro Próximo Texto: Saiba como calcular o preço de uma diária Índice |
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