São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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Centro estuda como dividir cidade entre Israel e OLP

HELIO GUROVITZ
DO ENVIADO ESPECIAL

No Centro Israel-Palestina para Pesquisa e Informação (Ipcri), o judeu Gershon Baskin comanda uma equipe de israelenses e palestinos que estuda como resolver a disputa por Jerusalém.
O símbolo do Ipcri reúne trechos das declarações de independência de Israel e da OLP. O centro propõe reconhecer a cidade como capital de dois Estados: Israel e Palestina.
A proposta do Ipcri recebe o nome pomposo de "soberania dispersa". Significa, basicamente, que Israel seria dono e legislaria sobre os bairros judeus, e a Palestina, sobre os bairros árabes.
Mas ambos reconheceriam que a cidade é uma só e cooperariam em funções administrativas. Nesse caso, Baskin defende que cada lado tenha exatamente 50% do poder, independentemente do número de habitantes.
"Há várias cidades divididas, desde o confronto aberto em Sarajevo até a convivência pacífica entre flamengos e franceses em Bruxelas", diz o cientista. "Acho que Jerusalém pode aproveitar muitas idéias dos belgas."
Além da divisão de poderes, ele cita como essencial o reconhecimento de ambos os lados de que toda a legislação seria provisória, podendo ser alterada sempre que alguém se sentisse prejudicado. Todas as decisões, sustenta Baskin, seriam tomadas pelo diálogo.
Para o governo de Israel, falar em dividir a soberania sobre Jerusalém ainda é uma temeridade. Lei de 1980 considera a cidade capital indivisível do Estado.
Mas apenas Costa Rica e El Salvador reconhecem Jerusalém como capital de Israel e lá mantêm suas embaixadas. Nos acordos de paz, Israel assinou que vai negociá-la.
"Sim. Existe uma solução. Só depende de boa vontade política e de concessões de ambos os lados", diz Ygal Palmor, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel.
Segundo ele, há estudos sobre Jerusalém coordenados pelo ministro Yossi Beilin, que tem no novo gabinete de Peres a função de negociar a paz com árabes.
A posição oficial de Peres ainda é considerar a cidade "fechada politicamente, mas aberta religiosamente". "Liberdade de acesso aos locais sagrados é o ponto básico para começar qualquer negociação", diz Palmor. Da soberania, porém, Israel ainda não abre mão.
Palmor não entra em detalhes sobre as concessões que o governo de Israel estaria disposto a fazer numa mesa de negociações, mas não exclui a concessão de direitos políticos aos palestinos.
"Palestinos de Jerusalém oriental, inclusive da Cidade Velha, já terão direito a voto nas próximas eleições palestinas."
Mas a soberania sobre os locais sagrados continua sendo o centro da disputa em Jerusalém.
"O chão do Santo Sepulcro, por exemplo, foi dividido entre quatro igrejas, e os coptas (cristãos egípcios) reivindicam um trecho ocupado por uma quinta igreja, etíope, no teto da basílica", diz Palmor. A chave da basílica fica em poder de uma família muçulmana.
A esplanada que reúne a Cúpula da Rocha e a mesquita de Al Aqsa fica no alto de uma colina, exatamente no local dos dois templos judaicos destruídos. Na encosta, fica hoje o Muro das Lamentações.
Em outubro de 90, soldados da Guarda Fronteiriça do Exército israelense metralharam fiéis muçulmanos na esplanada das mesquitas, deixando 17 mortos.
No local havia choques entre muçulmanos e o grupo judaico Fiéis do Monte do Templo, que pretende destruir as mesquitas e reconstruir o templo sagrado.
Após o assassinato de Rabin, o acesso à esplanada foi fechado por Israel, como medida de segurança. A proximidade dos santuários continua a desafiar o traçado de qualquer fronteira.

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