São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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História da cidade começa com lenda bíblica

HELIO GUROVITZ
DO ENVIADO ESPECIAL

A história de Jerusalém começa com uma lenda bíblica. Sobre uma rocha, o patriarca Abraão oferece seu filho Isaac em sacrifício a Deus. O todo-poderoso recusa o sacrifício, que antes exigira. Diz a Abraão que apenas testava sua fé.
Isaac teria dado origem a todo o povo judeu. O outro filho de Abraão (ou Ibrahim), Ismael, ao povo árabe. A rocha onde Abraão teria oferecido o filho em sacrifício foi sede de dois templos judaicos e estaria hoje sob a dourada Cúpula da Rocha, em Jerusalém.
Repleta de fiéis judeus, muçulmanos e cristãos, a cidade de Jerusalém é capital para o Estado de Israel e para a OLP.
Neste ano e no próximo, os israelenses comemoram os 3.000 anos de Jerusalém, contados a partir do momento em que o rei David a fez capital.
David conquistou a cidade dos jebuzeus, povo que vivia na região, e lá estabeleceu a sede de seu reino. Dessa forma, ele tentava evitar disputas entre as tribos judaicas e centralizava o poder.
O filho de David, Salomão, fez construir sobre a rocha do sacrifício de Abraão um templo sagrado, que ficou conhecido como o Primeiro Templo pelos judeus.
Os reinos judaicos se sucederam por 400 anos, até 587 a.C., quando Jerusalém foi conquistada pelos babilônios, e o templo, destruído.
Menos de cem anos depois, os babilônios foram derrotados pelos persas, que autorizaram o retorno dos judeus a Jerusalém. O templo foi então reconstruído.
Depois dos persas, a região foi conquistada por Alexandre, o Grande, e passou ao domínio helenístico. Os reis da Palestina toleravam costumes judaicos.
Em 198 a.C., o rei grego selêucida Antíoco 3º, da Síria, tomou Jerusalém. Seu filho, Antíoco 4º, tentou transformá-la numa metrópole helenística e tomou o templo.
Isso gerou uma revolta na população, conhecida como revolta dos hasmoneus. Em 165 a.C., o templo voltou a ser consagrado. Os hasmoneus instituíram um Estado judaico que durou até a conquista da região pelos romanos.
Em 37 a.C., os romanos indicaram Herodes como rei da Judéia. Sob Herodes, Jerusalém atingiu grande prosperidade econômica, mas um alto nível de corrupção política e devassidão.
Com intuito de eliminar um messias que teria sido anunciado e nascido, o rei judeu Herodes teria mandado matar todos os meninos judeus com menos de dois anos.
Para escapar à ordem, os judeus José e Maria teriam fugido de Belém para o Egito com seu filho: o menino Jesus, filho de Deus para os cristãos.
Com a morte de Herodes, a Judéia se tornou uma Província romana. Jerusalém deixou de ser capital. Vários grupos de judeus se revoltaram contra os romanos.
Segundo os Evangelhos, Cristo voltou a Jerusalém mais tarde e se tornou um pregador perigoso politicamente. Perseguido, teria sido julgado, condenado e crucificado sobre uma pedra chamada Gólgota, não muito afastada do templo.
Os choques entre judeus e romanos culminaram com a vitória dos últimos. Em 70 d.C., o Exército de Tito entrou em Jerusalém e destruiu o Segundo Templo. Dele restou o muro, venerado até hoje.
Em 130 a.C., o imperador Adriano decidiu transformar Jerusalém numa cidade pagã. Houve nova revolta judaica contra os romanos, mas o domínio judaico sobre a cidade só durou dois anos.
No século 4º, o imperador Constantino se converteu ao cristianismo, transformando-o em religião oficial do Império Romano.
Sua mãe, Santa Helena, fez erguer em Jerusalém uma basílica na região do Gólgota, com uma cúpula sobre o local onde Cristo teria sido sepultado. Até hoje, o local é venerado por milhões de cristãos.
Em 638, o califa Omar, seguidor do profeta Maomé, conquistou Jerusalém. Em 691, seu sucessor Abd al Malik fez construir sobre a rocha do templo e do sacrifício de Abraão uma mesquita com cúpula dourada -a Cúpula da Rocha.
Para os muçulmanos, é a rocha de onde Maomé subiu aos céus. Depois foi erguida no mesmo monte a mesquita de cúpula prateada, de Al Aqsa (a "afastada").
Em 1099, um movimento cristão de reconquista chega a Jerusalém. Cruzados massacram judeus e muçulmanos e estabelecem a cidade como capital de um reino derrotado mais de cem anos depois.
A partir do século 13, Jerusalém faz parte do reino muçulmano dos mamelucos. Datam dessa época suas muralhas. Em 1517, Jerusalém cai em poder dos turcos. Seu domínio sobre os locais sagrados dura 400 anos, até 1917.
No século 19, judeus perseguidos em outras regiões começam a voltar à Palestina. São estabelecidas as primeiras casas fora das muralhas da cidade, a oeste.
Após a Primeira Guerra Mundial, é concedido ao Reino Unido mandato sobre a Palestina, incluindo Jerusalém.
Árabes e judeus começam a lutar contra o domínio britânico. Insuflados pelo mufti de Jerusalém, palestinos se revoltam também contra os habitantes judeus.
No final da Segunda Guerra Mundial, vêm à luz os horrores do nazismo. Diante do extermínio de 6 milhões de judeus, a comunidade internacional faz passar na ONU em 1947 uma resolução que dividia a Palestina em dois Estados: um árabe e um judeu.
Pela resolução, a cidade de Jerusalém seria internacionalizada, sob custódia da ONU.
Em 17 de maio de 1948 é proclamada em Tel Aviv a independência de Israel. No ano seguinte, Jerusalém seria declarada capital.
Quase simultaneamente à independência, os países árabes iniciam uma guerra contra Israel, para devolver a Palestina aos palestinos, que recusavam dividir território com um Estado judaico.
Pelo armistício assinado com a Jordânia em 1949, Jerusalém é dividida em duas. O setor ocidental passa a ser considerado capital por Israel e o setor oriental fica em mãos jordanianas.
A Jordânia troca judeus, retirados da Cidade Velha, por prisioneiros de guerra. Árabes de Jerusalém oeste que não fugiram, morreram ou foram expulsos podem optar pela cidadania israelense.
Em 1967, Israel lança ofensiva sobre países árabes. Conquista a faixa de Gaza, do Egito, as colinas de Golã, da Síria, e a Cisjordânia e Jerusalém oriental, da Jordânia.
Em 1980, a cidade, anexada, é proclamada capital una e indivisível por Israel. Bairros judaicos são expandidos para o setor oriental, e a cidade quase triplica de território, tomando parte da Cisjordânia.
Em 1988, na declaração de independência proclamada pela OLP, Jerusalém é considerada capital da Palestina. Pelo compromisso de paz assinado de 1993 entre israelenses e palestinos, Israel se dispõe a negociar a situação da cidade.

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