São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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"Longe de meu filho, caí em depressão"

Rodrigo, 39, comerciante
Quando meu moleque nasceu, tinha apenas 27 anos e confesso que não senti quase nada. Pai de primeira viagem, estranhei o bebê. Não me identifiquei com aquele serzinho que passava o dia inteiro mamando e dormindo.
Gostava dele, claro. E cumpria todas as minhas obrigações: trocava fralda, levava para passear, dava banho. Mas não ficava derretido, apegado. Se precisasse viajar sozinho, por exemplo, ia sem culpa de deixá-lo.
Tudo mudou depois que o menino fez três anos. Esperto, perambulava pelos corredores, bagunçava, falava enrolado. Virou um grande companheiro. E eu, um pai coruja. Nada me alegrava mais do que estar com o garoto.
Só que, mal ele completou cinco anos, me separei. Saí de casa e a Justiça deu a guarda do moleque para a mãe. Caí em depressão profunda -não tanto pelo fim do casamento. O que me desesperava era precisar abrir mão de conviver diariamente com meu filho.
Surgiram, então, uns grilos absurdos. Imaginava que, sem minha proteção cotidiana, o menino correria perigo, iria ter problemas na escola, sofreria discriminações.
Quase enlouqueci. Dormia mal, chorava muito e me desinteressei por sexo.
A aflição durou uns dois anos. Fui me acalmando quando compreendi que as coisas não dependem exclusivamente de mim para se ajeitar. Meu moleque cresce feliz e saudável porque a mãe -e a própria natureza- também zelam por ele.

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